Espero que este título lhe tenha gerado estranheza, ou pelo menos a curiosidade suficiente para começar a ler este artigo.
Reflecti bastante antes de começar a escrever este artigo. Até iniciei alguns rascunhos antes desta versão. Contudo, falava do que mesmo que toda a gente aborda quando o tema é bem-estar. Por isso, resolvi abrir uma nova página em branco para lhe falar do coração. Passar-lhe a aprendizagem mais importante que eu tive sobre este tema, quer enquanto pessoa, quer enquanto profissional que acompanha muitos outros profissionais.
Durante toda a minha vida sempre olhei para o trabalho como uma maratona de esforço e de dedicação. Sempre acreditei que se assim não fosse, se eu não estivesse constantemente a dar o meu máximo, a ultrapassar os meus limites, a deixar tudo no trabalho, então não seria suficientemente boa. Não se obteriam os resultados desejados.
A verdade é que o paradigma do empenho, da dedicação, do esforço é algo muito incentivado pela nossa sociedade. Já perdi a conta às dezenas de discursos motivacionais em que se fala de dar a “milha extra”, da importância de se ter disciplina, de ser importante o seu esforço e empenho para alcançar os resultados do trimestre ou do ano. Os discursos do ‘temos isto’ ou ‘temos aquilo’. Com um tom que coloca uma certa pressão, um sentido de urgência até.
Este tom, esta mensagem que recebemos de todos os lados desde muito cedo, acaba por nos programar para fazer as coisas a partir de um estado de medo em nós: temos de agir desta forma, senão não somos válidos que chegue. Não obtemos os resultados que são precisos. Não seremos suficientes.
Foi deste estado que eu agi durante muito tempo. Organizei a minha vida com base num estado alicerçado no medo. Porque se eu não fizesse assim, eu não conseguiria o que queria. Se não isto, então não aquilo…
Só que a vida é sábia e encarrega-se de nos demonstrar o que precisamos aprender sobre nós. Já por diversas vezes agi até à exaustão. Cheguei ao ponto de já não ter nada para dar, estive à beira do burnout várias vezes. Levei para casa os restos de mim. Não fui a esposa, a mãe, a filha, a amiga que gostaria de ter sido. Tudo porque coloquei em primeiro lugar o trabalho, o esforço e a dedicação que acreditei que seriam necessários para ter os resultados que eu desejava. Apesar de afirmar aos quatro ventos que o mais importante para mim eram a saúde, a família, as relações e só depois o trabalho. Dizia uma coisa e agia em sentido contrário. Apesar de não ser essa a minha intenção.
Foi assim, até há 3 anos. Depois de um divórcio e de mudanças inesperadas no meu negócio, eu percebi que algo em mim teria de mudar na minha relação com o trabalho. A minha cabeça dizia-me:
– “Continua, não páres”,
– “Se parares, não tens clientes e não tens como pagar as tuas responsabilidades”,
– “Faz mais”,
– “Faz melhor”.
Mas o meu corpo já não acompanhava e pior, os resultados também já não apareciam. Até que comecei a ter ataques de pânico. Sim, isso mesmo. O meu corpo pedia-me para o escutar. Pedia-me para ser compassiva comigo própria. Tinha passado por tanto, em tão pouco tempo. Num espaço de meses, separei-me. Precisei de encontrar uma casa, o que se revelou uma tarefa hercúlea. Montar um novo lar de raiz. Reorganizar o meu negócio porque uma das pessoas da equipa tinha saído. Acompanhar o meu filho que entrou em crise. A verdade é que o fiz. Tudo ao mesmo tempo. Mas e eu?
Eu não respeitei o que eu precisava. Então o meu corpo obrigou-me a que eu o escutasse. Daí os ataques de pânico.
Desde essa altura iniciei um processo psicoterapêutico. Nesse caminho, aprendi que nada é mais importante do que o meu bem-estar. Absolutamente nada!
Não posso ajudar o meu filho se estiver desregulada emocionalmente. Na verdade, até posso contribuir para piorar ainda mais as coisas.
Não posso ajudar os meus clientes se estiver esgotada. Na verdade, até posso tornar-me impaciente com os seus dilemas.
Não consigo criar nada de novo se estiver sempre a operar a partir de medos. Na verdade, só gero ainda mais frustração e desgaste.
Com esta nova clareza, a de que “Nada é mais importante do que o meu bem-estar”, coisas diferentes começaram a acontecer à minha volta.
Eu consegui encontrar novas formas de levar o meu negócio, sem que ele dependesse em exclusivo de mim.
Eu aprendi a aceitar o processo de desconforto do meu filho e simplesmente a estar lá como porto seguro quando ele precisa. Confiando que ele aprenderá o que precisa.
Eu consegui dizer Não a muitas coisas que me trariam mais dinheiro, mas que não me traziam entusiasmo e sobretudo saúde.
Eu consegui colocar limites em relações pessoais e profissionais de forma assertiva e transparente. Comunicando ao outro que compreendia a sua intenção ou o seu pedido, mas devolvendo a minha perspectiva e posição em relação ao assunto.
Eu passei a planear como prioridade na minha agenda, o treino, a meditação, a socialização, a diversão, o autocuidado.
Ao mudar o meu paradigma, encontrei novos alicerces do meu bem-estar e não mais voltei a ter ataques de pânico.
Aprendi também que a única pessoa responsável por tomar conta de mim e garantir que reúne as condições para eu estar bem, sou eu. Não é uma empresa, não é a minha equipa, não é a minha família. Sou eu.
Por isso, o que lhe quero dizer hoje é que o caminho para o seu bem-estar depende de ter a coragem de se dar a si a importância devida. De se colocar a si em primeiro lugar. Só assim, pode dar o seu melhor em tudo o que faz e também nas relações com os outros. Vai ser de um espaço de coragem que vai conseguir fazer essa conquista.
Coragem para se respeitar, para se levar a sério e para se considerar a pessoa mais importante da sua vida. Aquela de que precisa aprender a cuidar em primeiro lugar.
Este é um artigo diferente daqueles que habitualmente escrevo. Espero sinceramente que esta partilha o faça pensar um pouco sobre como tem lidado consigo próprio. É sobretudo um convite a que seja você o primeiro a responder às suas necessidades e não os outros.
Pense nisso.
Em complemento a este artigo, escute o último episódio do Podcast QPM, sobre os ‘factores não evidentes’ que influenciam o seu bem-estar.