Mudar de emprego faz parte da vida de qualquer profissional que pretenda evoluir e obter gratificação. Neste momento são vários os estudos1) que demonstram que mais de 70% dos Portugueses e Europeus estão disponíveis para mudar de emprego em 2024. Esta é uma tendência que se tem vindo a afirmar nos últimos anos. Algumas das motivações para fazê-lo passam por factores como a busca por melhor salário, oportunidades de progressão e novos desafios. Mas não fica por aqui. Tem vindo a ganhar cada vez maior expressão a procura simultânea por aspectos menos tangíveis mas que influenciam a qualidade de vida dos profissionais. São exemplos o equilíbrio entre a vida/trabalho e a flexibilidade.

Tudo isto faz todo o sentido e sou a primeira a estimular este tipo de mudança. Só que a minha experiência tem-me demonstrado que este movimento de mudar de emprego nem sempre nos leva para destinos melhores. Assim, partilho consigo os principais aspectos que nos podem influenciar a mudar para pior e como pode prevenir que isso lhe aconteça.

1. Mudar em fuga.

Muitas vezes queremos mudar para sair do desconforto que sentimos na actual Organização. Esse desconforto pode estar ligado a estagnação, a tensões na relação com a chefia ou a perda de alinhamento com a Organização face a mudanças recentes. Quando este é o caso, é frequente sentirmos urgência em sair e é aqui que começa o perigo. Tendemos a ser precipitados na escolha que fazemos. Eu própria já passei por isso. Numa altura em que houve um desentendimento com a minha chefia no emprego que tive há uns anos, eu queria sair a todo o custo daquela relação. Nessa altura surgiu um convite e aceitei. Identificava-me com a chefia, mas tudo o resto não tinha nada a ver comigo e o resultado final foi desastroso. Acabei mesmo por ser despedida!

O que lhe quero mostrar é que quando nos sentimos desconfortáveis e insatisfeitos com algo, temos tendência a activar o modo fuga. Estamos sob stress e por causa disso tornamo-nos mais emocionais nas decisões. É por isso fundamental ter uma abordagem que nos ajude a ser mais objectivos e nos auxilie a distinguir o trigo do joio na hora de mudar. Deveremos resistir à tentação de escolher em função de apenas um ou dois factores externos que existem nas Organizações e ser mais exigente nessa escolha. No método de trabalho que desenvolvi convido a que cada profissional construa a sua short-list dos 5 aspectos que a relação profissional precisa respeitar. Pode passar pelo salário, formato de trabalho, estilo da chefia, cultura da Organização, tipo de equipa, grau de autonomia, etc.

2. Acreditar que não pode escolher.

Depois do que lhe descrevi acima, imagino que esteja a pensar que não se pode dar ao luxo de escolher. Que deverá aceitar a primeira oportunidade que lhe dê maior salário e progressão ou até flexibilidade. Sendo disso que anda à procura. Só que ao pensar desta forma está num mindset de escassez. Ou seja, a partir do pressuposto que se deve contentar com o que aparece. Isso é precisamente parte do problema que faz com que as relações profissionais não sejam sustentáveis e que tenha de mudar novamente passado pouco tempo.

Na verdade, este tipo de crença limitadora acontece porque não tem os seus níveis de autoconfiança devidamente fortalecidos ou porque tem ideia que o mercado de trabalho não está permeável a perfis como o seu. Da minha experiência, nós somos especialistas a imaginar os piores cenários. Mas pouco proactivos a recolher informação factual para perceber como pode responder às necessidades do mercado, aos seus interesses e a saber posicionar-se. Fica-se a ver as vagas e a avaliar se se encaixa ou não. Isso tem o potencial de lhe gerar cada vez mais a sensação de estar desajustado ao mercado e que não pode sair de onde está e desejar algo melhor.

Qualquer mudança importante de vida requere que trabalhemos a nossa mentalidade e bloqueios psicológicos. É por isso que os movimentos de mudança nos fazem crescer e tornar versões melhores de nós próprios.

A minha recomendação neste caso é que descreva no papel todos os seus receios e procure falar com pessoas que já mudaram ou que estão a fazer o que deseja. Recolha junto dessas pessoas informação para aprender como pode alcançar o que pretende.

3. Procurar apenas factores externos e não considerar a pessoa que se é.

Vou dar-lhe um exemplo concreto. A Monica mudou para um emprego em busca de melhor salário e trabalho remoto. Conseguiu. Só que ao final de um ano sentia-se apática e em esforço em relação ao que fazia. A sua mudança focou-se apenas nos aspectos externos que lhe davam jeito para o seu estilo de vida. É nómada digital e gosta de viver em diferentes Países, só que sentia-se profundamente infeliz no seu trabalho porque colaborava com uma empresa cujo propósito não tem nada a ver consigo. Por outro lado, precisava bastante de estar integrada numa equipa e de se conectar com os seus pares, o que não acontecia . Ou seja, muitas vezes achamos que as condições que as entidades nos oferecem darão resposta a todas as nossas necessidades e na verdade esquecemo-nos de quem somos e do que precisamos como pessoa. Quando esse é o caso, por mais fantástico que seja o pacote que lhe oferecerem, o mais provável é que não funcione para si.

Num outro caso, o José aceitou colaborar com uma empresa altamente conceituada no mercado e que lhe ofereceu condições fantásticas na contratação. Só que o José não sentia qualquer entusiasmo pelo que estava a fazer e ficou profundamente desmotivado assim que o efeito novidade passou.

A minha recomendação é que na hora de mudar, descreva para além dos aspectos que a organização lhe pode dar, quais são os aspectos cruciais para si que lhe trazem energia. Ajuda listar o seguinte:

  • Tipo de actividades que faz que mais o entusiasma,
  • Se pretende trabalhar mais em equipa ou mais a solo,
  • Os seus principais interesses e procurar empresas que lhe permitam actuar sobre os mesmos.

Em síntese:

Mudar de emprego é salutar e uma grande tendência de momento. Para fazê-lo e conseguir o que pretende recomendo 3 cuidados chave que na hora de decidir farão a diferença:

  1. Defina os 5 principais requisitos que quer que a futura Organização garanta,
  2. Liste os seus maiores receios na mudança e recolha informação factual para conseguir responder-lhes,
  3. Identifique o que precisa enquanto pessoa, nomeadamente as actividades que mais gosta de fazer, os maiores interesses que quer responder e se funciona melhor em equipa ou a solo.

 

1)Fontes:

https://www.hays.pt/guia-laboral/home

https://www.michaelpage.pt/not%C3%ADcias-estudos/estudos/talent-trends