Sabe aquele momento em que está numa reunião, com uma ideia ótima, mas decide ficar calado?
Ou quando aceita um projeto impossível “só para não desapontar”?
Ou quando, no final de mais uma semana exaustiva, pergunta a si mesmo: “Mas será que vale mesmo a pena?”
A verdade é que tudo isto tem uma raiz comum.
Não é falta de competência.
É a falta de valor próprio.
E está a sabotar silenciosamente a sua carreira, mesmo que não dê por isso.
Mas afinal, o que é valor próprio?
Valor próprio não é gostar de si. Não é sentir-se bem.
É reconhecer, de forma incondicional, que tem valor só por ser quem é. Mesmo antes de provar, entregar ou alcançar alguma coisa.
Segundo John Niland (2019), o autor do livro The Self-Worth Safari, o valor próprio é a convicção profunda e incondicional no nosso valor enquanto pessoa.
Independentemente daquilo que nós conquistamos, dos resultados que tenhamos ou do que os outros dizem. É no fundo construir uma relação de lealdade e respeito por nós próprios, em primeiro lugar.
Como escreve Kristin Neff (2021), especialista em autocompaixão refere, o valor próprio verdadeiro nasce da aceitação incondicional de quem somos, e não do que fazemos.
E se pensarmos bem, se realmente respeitarmos aquilo que nós sentimos e queremos, a maneira como tomamos decisões é diferente. Ou seja, o valor próprio é o que sustenta as nossas decisões, os nossos limites e a forma como nos posicionamos.
Quando ele está em baixo, deixamo-nos moldar pelo que os outros esperam. Mas quando está forte, conseguimos agir com clareza, mesmo nos momentos de dúvida.
Como o valor próprio tem impacto na sua carreira?
Pode ter um ótimo currículo, uma rede sólida e resultados visíveis… e mesmo assim sentir-se perdido, inseguro ou a duvidar de si.
Para além disso, vivemos um tempo em que as pessoas estão cansadas, sobrecarregadas e em modo sobrevivência. E muitas vezes, o que está por trás de muitos destes sinais, para além da falta de equilíbrio, é a falta de valor próprio.
Porque quando não acredita que merece mais, não procura mais.
Quando duvida do seu impacto, não pede mais.
Quando sente que tem que provar, sobrecarrega-se.
Quando tem um valor próprio muito baixo:
- Trabalha demais para se sentir “suficiente”.
- Fica onde já não cresce, por medo de não ter mais opções.
- Tolera desrespeito para manter estabilidade.
- Compara-se, esconde-se, desvaloriza-se.
Quando tem um valor próprio elevado:
- Pede o que precisa, sem medo de parecer exigente.
- Posiciona-se com clareza, mesmo em ambientes caóticos.
- Assume escolhas que o respeitam, mesmo que contrarie expectativas.
- Não confunde esforço com valor.
E tudo isto tem impacto, quer queira ou não. Se o seu valor próprio estiver em baixo, o impacto tende a ser negativo e a causar danos à sua carreira. Se tiver um senso de valor próprio alto, este tende a ter um impacto positivo na sua carreira.
Mas não fique apenas pela minha palavra. Orth, Krauss e Robins (2022) analisaram mais de 50 000 participantes ao longo de múltiplos anos, e revelaram que uma alta auto-estima tende a predizer uma maior satisfação no trabalho, melhor desempenho, melhor remuneração e melhores condições profissionais. E ainda, Gervais (2024) ao analisar o FOPO (fear of others’ opinions), confirmou que profissionais que não dependem do olhar dos outros tendem a demonstrar mais clareza de decisão, autonomia e assertividade.
Por outro lado, Taşkıran, Gençer Çelik, Kartaltepe Behram e Dinç Elmalı (2025) revelaram que a autoestima baixa elevou a sensação de impostor e reduziu a satisfação na carreira do indivíduo. E ainda referem que quem demonstra alto sentimento de impostor tende a evitar se expôr, deixa de competir por promoções e frequentemente atribui seus sucessos à sorte ou fatores externos, desacelerando seu crescimento na carreira.
Apenas uma nota. Muitos estudos incluem a auto-estima, síndrome de impostor e o valor próprio como factores que se correlacionam e estão, por norma muito associados, por isso é que a evidência científica que incluo neste artigo, refere a auto-estima e síndrome de impostor.
Como redefinir o seu valor próprio
Valor próprio não se lê num livro. Constrói-se em pequenas decisões. Todos os dias. Aqui estão 4 práticas que têm mudado a forma como os meus clientes, e eu, nos vemos:
Examine os seus padrões de cedência
Onde está a dizer “sim” quando queria dizer “não”?
Em que momentos se anula para manter a paz ou a aprovação?
Pratique lealdade a si mesmo
O que prometeu a si próprio e tem ignorado?
A sua palavra consigo mesmo vale tanto quanto qualquer compromisso profissional.
Não confunda esforço com valor
Mais esforço ≠ mais valor.
O seu valor já está em si, mesmo antes de entregar resultados.
Não descure o autocuidado e seja fiel aos seus limites
A prática de autocuidado é fundamental para manter e nutrir o valor próprio e estabelecer limites claros é essencial para evitar a sobrecarga e garantir um equilíbrio saudável entre a vida profissional e pessoal. E ainda, celebre as pequenas vitórias (ajuda a reforçar a auto-estima e a motivação, criando um ciclo positivo de autocuidado e auto-valorização).
Referências
Gervais, M. (2024). Stop Basing Your Self-Worth on Other People’s Opinions. Harvard Business Review.
Krauss, S., & Orth, U. (2022). Work Experiences and Self-Esteem Development: A Meta-Analysis of Longitudinal Studies. Psych. Bull., 148(11-12), 758-790
Neff, K. (2021). Fierce Self-Compassion. HarperOne.
Niland, J. (2019). The Self-worth Safari: Valuing your life and your work. VCO Academy.
Taşkıran, E., Gençer Çelik, G., Kartaltepe Behram, N., & Dinç Elmalı, E. (2025). Unraveling the complex interplay: self-esteem, impostor phenomenon, proactive personality, and their influence on career satisfaction. Frontiers in Psychology, 16, Artigo 1583454