Nesta sessão das ‘Career Conversations’ explorámos diferentes perspectivas sobre esta pergunta. Estas sessões representam um espaço de conversas com significado em que desafiamos os paradigmas sobre a vida profissional e abordamos tópicos que apoiam uma relação salutar com a carreira.

Abordámos os seguintes tópicos:

– A relevância do tema
– Porquê agora?
– As diferentes perspetivas sobre o tema
– Recomendações

Apresentamos-lhe uma breve síntese do que foi partilhado, podendo assistir à versão integral da Career Conversation aqui

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 Mudar de carreira durante a pandemia

Este foi o tema da primeira Career Conversation . Nessa altura abordámos a mudança de carreira, pelo ângulo da nossa própria experiência e partilhámos as alterações de comportamento que observámos, fruto de uma convivência recente com a pandemia. A perspectiva colectiva que existia na altura era diferente daquela que temos hoje decorrido o período de um ano, durante o qual se aprendeu muito sobre o vírus ao mesmo tempo que as nossas vidas se adaptaram a ele numa convivência cautelosa.

Neste momento está a decorrer um plano de desconfinamento gradual ao mesmo tempo que entramos no segundo ano de pandemia. Durante este tempo, foram muitos aqueles que passaram a desenvolver a sua actividade em regime de teletrabalho e apesar das tendências evidentes de que até se trabalha mais e da exigência de conciliação com a vida pessoal, também é verdade que para várias pessoas se estabeleceram equilíbrios mais toleráveis com as relações profissionais que há muito se revelavam insatisfatórias. Quando se coloca o panorama do desconfinamento, ainda que este seja gradual tende a acentuar-se o sentido de urgência para a mudança. As pessoas não querem regressar aos locais de trabalho e o tema da mudança volta a estar no top of mind porque o espaço que se ganhou tem agora um fim à vista.

Contudo, esta perspectiva colide com as conclusões que recentemente saíram num estudo no qual se procurou compreender o que as famílias e profissionais portugueses esperam de 2021. Em termos globais este estudo evidencia que boa parte dos cidadãos perspectivam que este será um ano de estagnação. O estudo intitulado “Lifestyle e decisões de investimento das famílias portuguesas em 2021”, foi realizado pelo ISAG – European Business School em conjunto com o Centro de Investigação de Ciências Empresariais e de Turismo da Fundação Consuelo Vieira da Costa (CICET-FCVC) e os resultados publicados num artigo no site da revista Forbes, dão conta de que decisões como mudar de emprego, casar ou ter filhos, investir em casa, carro ou mercados financeiros estarão fora dos planos da maioria dos inquiridos em 2021.

No que concerne à área profissional, cerca de 77% dos inquiridos refere que uma mudança de emprego estará fora de questão e 23% pondera fazê-lo.

É por isso mesmo que o tema desta Career Conversation é uma pergunta. A nossa intenção é apoiar as pessoas numa reflexão consciente sobre o tópico, por forma a que retirem as suas próprias ilações.

Até aqui partilhámos:

  1. Existem pessoas há muito insatisfeitas com as escolhas que fizeram nas suas vidas profissionais e as alterações de vida decorrentes da convivência com uma pandemia, criou espaço para respirarem e ganharem um equilíbrio mais sustentável com o seu trabalho ao mesmo tempo que ponderam uma mudança;
  2. Por outro lado, existem estudos que demonstram que a maioria das pessoas será conservadora nas decisões estruturantes de vida. Como aliás já se comprovou noutros momentos de crise.

Ou seja, há quem vá mudar e há quem vá permanecer tal qual como está. E vai haver sempre! Exista ou não uma crise de saúde ou uma crise financeira.

Naturalmente quando acedemos a estudos como aquele que referenciámos, há impactos e leituras diferentes:

– Há pessoas que estando há muito tempo insatisfeitas, nada fizeram para mudar, porque têm medo. Se nada fizeram até agora e se vivem aprisionadas no medo,  perante este tipo de informação reforçam as crenças que potenciam esses medos e não irão à partida fazer mudanças agora. Provavelmente não terão a proactividade para o fazer, excepto se forem empurradas para uma situação de desemprego.

– Há no entanto outras pessoas que estão num enorme desconforto e que já não conseguem tolerar a situação, por isso irão agir de qualquer modo.

O que é uma mudança de carreira?

Recomendamos que assistam à Career Conversation 1 onde aprofundámos o tópico. Relembramos contudo que mudar de carreira implica que o foco, o conteúdo, a natureza do trabalho que a pessoa realiza podem mudar. A pessoa que ‘era uma coisa, passa a ser outra coisa’. Exemplos: um bancário que passa a ser professor ou um consultor que se torna agricultor. Também se inclui na mudança de carreira a mudança de papel dentro de uma mesma organização. Por exemplo, sair da Coordenação de operações e ir para a área de Recursos Humanos ou até de Marketing. É diferente da mudança de emprego. Na mudança de emprego, continua-se em essência a fazer-se o que em certa medida já se fazia, mas agora numa morada diferente.

Nesta conversa salientámos um aspecto no tema da maior relevância: A maioria das pessoas não acorda um dia e decide mudar de carreira. Pelo contrário. Nós estamos formatados para ter percursos lineares.

O que são percursos lineares?

São percursos assentes em dinâmicas colectivas convencionadas, como é o caso de decidir ir para a universidade, arranjar um emprego relacionado com o que se esteve a estudar e crescer nessa atividade ou nesse setor, obtendo gradualmente mais responsabilidade e se possível remunerações mais altas. Ou seja, a chamada progressão de carreira em escada. Neste percurso, caminhamos sempre no mesmo sentido sem desvios de percurso. Este é o paradigma em que fomos educados ao longo de décadas. E que era coadjuvado pela estruturas organizativas das entidades que permitiam este modelo. Hoje, todas as mudanças que ocorreram no mundo, desafiam este conceito adquirido pela via da educação. Mas o que é certo é que este modelo está de tal modo enraizado em todos nós, que tudo o que desafie esta ideia levanta resistências e incompreensões. Se rejeitamos este percurso linear para nós, é porque teremos à partida ‘um problema’. Porque todos nos dizem que é suposto querermos fazer isto, desta forma. É isso que nos trará estabilidade financeira e emocional e é disto que precisamos para viver felizes. Só que são mesmo muitas as pessoas que ao experienciarem a vivência que este modelo traz, descobrem que não querem nada disto e começa aí a história de mudança de muita gente. No outro dia, um dos nossos clientes dizia-nos: Eu tive tudo, o status, o salário, o carro, a casa, e nunca fui tão infeliz. Sentia-me vazio!

O que queremos dizer com isto é que ninguém sonha com uma mudança de carreira, até precisar de a fazer. Reforço estas palavras: Até precisar de a fazer!

As mudanças de carreira são algo que nasce na maioria dos casos de um estado de enorme dor, confusão, autoquestionamento, de insatisfação, de sofrimento. Por mais que racionalmente tentemos já não conseguimos continuar por muito mais tempo a estar onde estamos e a fazer o que fazemos. Só queremos mudar! Já tentámos e não funcionou… Entramos naquele ponto em que até o desconhecido é preferível ao que vivemos hoje.

 Como já referimos, a pandemia tem levado a que muitas pessoas finalmente tivessem o devido espaço para pensar e explorar esta necessidade – a necessidade de mudar. Em cima disso, muitos tiveram reality checks que reforçaram a decisão de mudar:  perdas de pessoas próximas, a vida/rotina familiar que mudou, surgiram novos aspectos que se revelaram prioritários (como dar apoio aos filhos, aos idosos), aquilo que acreditavam que poderiam considerar como certo e garantido deixou de o ser, mudanças de comportamento de certas organizações pelo facto, por exemplo, de se estar em teletrabalho, ou simplesmente o sector de actividade onde desenvolviam o seu trabalho parou por completo e as pessoas viram-se confrontadas com ter de fazer uma mudança.

Há um momento em que realizamos que precisamos mudar. É uma inevitabilidade. Chamo a atenção de que a maioria das pessoas reconhece que tem de mudar mas, geralmente, o “quê” e o “como” estão totalmente em aberto contribuindo para um sentimento de impotência para a mudança.

Qual é a ideia que queremos aqui clarificar?

 Quando temos a certeza que é preciso mudar, não devemos adiar nem mais um dia, haja ou não uma crise instalada. E porquê? Se uma mudança de emprego se pode fazer em meia dúzia de meses ou num ano e pouco, uma mudança de carreira não. O plano temporal podem ser anos. Pode haver necessidade de novas competências, de novas aprendizagens e certamente de novas relações com pessoas que nos ajudem a alcançar um novo reposicionamento e papel.

Acima de tudo, que fique bem claro, o nosso grau de vontade e convicção é essencial. Temos mesmo de querer. Se a nossa atitude é achar que queremos mas só estamos disponíveis se der pouco trabalho, então mudar de carreira não é a opção. Mude de emprego, de equipa, de chefias e fique-se por aí. Mudar de carreira não é para todos. É para pessoas que estão dispostas a transformar-se para construirem a vida que lhes serve. E isso dá trabalho. Requer energia. Desafia até relações pré-estabelecidas. A mudança de carreira só é possível com mudança de mindset e com a nossa própria transformação e isso não depende do que acontece no mundo. O que acontece no mundo pode potenciar as oportunidades que queremos explorar ou ameaçar algumas das ideias que tenhamos. E isso significa que precisamos acima de tudo de ter diversos cenários e não apenas o plano linear para o qual fomos educados e que vai tipicamente bater no beco sem saída.
A segurança para a mudança emerge quando temos a convicção de que queremos uma vida diferente e que estamos dispostos a fazer o que for preciso, com todas as surpresas que isso possa acarretar. A mudança é um processo e envolve várias etapas como já abordámos na Career Conversation 2 (link).

Em síntese, se o argumento é o estado da economia, então a mudança de carreira não é para si. Se o argumento é querer abraçar a mudança dê por onde der porque eu preciso, então COMECE JÁ, porque a unidade de tempo em causa pode mesmo ser anos. Não são meses! Este momento é oportuno porque pode permanecer durante mais tempo em teletrabalho e isso dá-lhe o espaço que precisa para o fazer de forma mais proveitosa e começar a construir as bases para a construção de cenários a explorar.
Isso não pressupõe decisões precipitadas e saltos no abismo. O “como” é diferente para cada um.

Partilhamos por isso, um conjunto de recomendações, que resultam da nossa experiência de acompanhamento de centenas de pessoas nesta situação. São recomendações para começar a sua mudança e que são passíveis de aplicar no momento em que estamos.

Recomendações

 #1 Seja curioso.

Faça uma lista de 10 coisas sobre as quais sente curiosidade e um verdadeiro interesse. Resista à tentação de querer ter uma resposta pronta para o seu próximo movimento de carreira. Isso é a programação incorporada dos percursos lineares que referimos anteriormente. É um hábito de pensamento que só prejudica. É preciso abraçar uma fase divergente; para isso, comece por ‘colecionar’ informação relevante sobre os seus temas de interesse.

Os interesses dizem muito sobre a pessoa que nós somos e sobre aquilo que nos pode vir a trazer realização profissional. Faça a si mesmo a seguinte pergunta: O que é que eu gostava de aprender sobre estes temas? Como posso fazê-lo?  Se 10 for muito, identifique e foque-se no seu top 5.

Bill Bunett e Dave Evans, professores de Design da Universidade de Stanford, e autores do Programa Designing Your Life, falam em fazer uma curadoria da nossa curiosidade. Aplique esta ideia: Arranje uma pasta física ou digital, arrume aí links de artigos, vídeos, webinares, livros e até pequenos cursos sobre os temas. E estude. Explore. Saiba mais. Vai ver que esse exercício de descoberta lhe vai trazer energia. Esse é o primeiro passo para explorar outros lados do seu “EU” que têm estado latentes e precisam de emergir.

Outro profissional, Jay Shetty, life coach mundialmente conceituado recomenda que anote os nomes dos filmes, livros que mais gosta e identifique o que têm em comum. Geralmente alimentam um ou vários interesses que temos e não vivemos.

#2 Identifique o que sabe fazer

Faça o levantamento das competências técnicas e comportamentais que acumulou ao longo do tempo. Depois identifique nesse grupo quais são as competências nas quais sente verdadeiro interesse em manter para futuro. Repare que voltamos a falar do tema do interesse. Não é por acaso. Quando sentimos interesse pelo que fazemos, aumenta a vontade intrínseca de querer saber mais, de aprender. E a aprendizagem é um dos ingredientes vitais da realização. Se o que você faz, até fica bem feito, mas não lhe diz nada, mais cedo ou mais tarde irá surgir a sensação de vazio na sua vida profissional.

#3 Fale com outras pessoas.

Hermínia Ibarra, investigadora que estuda a mudança de carreira há 20 anos dá-nos pista valiosas sobre o networking quando queremos mudar de carreira.
Diz-nos esta professora da London Business School, que as pessoas mais próximas (família, os amigos e colegas de trabalho) são normalmente mais parecidas connosco e sabem o mesmo que nós. É menos provável que nos ajudem a pensar criativamente, e que nos ensinem algo novo. Algumas irão mesmo criticar-nos ou ampliar os nossos receios. Por isso o melhor é contactar com outras pessoas da sua rede: As mais distantes. Os laços adormecidos. Podem ser, por exemplo, pessoas que já nos foram próximas, mas com as quais não contactamos há alguns anos (ela fala em 3 anos).

Complementando as recomendações de Hermínia Ibarra, partilhamos a nossa experiência. A dificuldade que observamos no que se refere ao networking prende-se com duas questões:

– Com quem poderemos falar;
– Sobre o que devemos falar.

Em relação às pessoas com quem devemos falar, a nossa recomendação é que procure pessoas que tendo partido de uma base próxima da sua (colegas de curso, ex-colegas de trabalho) estejam a realizar algo que lhe suscite curiosidade e interesse.

Identificadas essas pessoas, sugerimos que prepare 2/3 questões concretas para lhe colocar. Por exemplo, peça que lhe descrevam em que consiste o seu papel actual e o seu dia-a-dia, que passos foram críticos para chegar a esse papel. Partilhe a sua história e peça conselhos.

Seja grato pela generosidade da partilha mas seja crítico sobre os conselhos. Vai ouvir opiniões que lhe vão fazer sentido e outras que não. Tudo isso é informação para trabalhar sobre si e planear com intencionalidade. Nós não temos de fazer como os outros fizeram, podemos fazer de forma diferente e conseguir o mesmo resultado. Estamos claramente a desafiar o mindset linear que temos abordado em toda esta conversa.

A carreira faz-se da sua intenção e do encontro desta com as oportunidades no mercado de trabalho que evoluem constantemente. Por isso é fundamental, manter-se informado através de diferentes fontes que incluem diferentes pessoas num mesmo papel.

#4 Experimente coisas novas.

Faça coisas diferentes alinhadas com os seus interesses e causas em que acredita. Inscreva-se numa aula. Faça um teste como voluntário durante umas horas num projeto. Junte-se a um grupo de pessoas que façam aquilo que quer fazer. Crie uma página num suporte digital sobre o tema a que decidiu dedicar-se a título experimental, partilhe as suas aprendizagens, e veja o que acontece.

Dave Evans, recomenda que se ponha a fasquia em baixo. Nós estamos totalmente de acordo, a nossa experiência confirma-o. Pode parecer contra-intuitivo, mas quanto mais simples e pequena for a experiência, mais fácil é concluí-la e retirar aprendizagens. Principalmente porque se o output não for do nosso agrado, investimos pouco tempo e energia e aprendemos depressa.

#5 Aceite a existência de um período de transição…

…entre o que está a querer deixar de ser e no que se está a tornar.

Este período é por natureza, emocionalmente menos organizado e mais confuso. Há mais perguntas do que respostas. É importante deixar cair o perfeccionismo e abraçar a vulnerabilidade. Aceitar que mudar de carreira é como fazer uma viagem com momentos de nevoeiro: Vemos 100 metros à nossa frente, não vemos a estrada toda. Na realidade, só precisamos de 2 coisas:

– Percorrer os próximos 100 metros;
– Aprender em cada etapa.

Haveremos de chegar ao destino. Tudo na vida é passageiro, excepto se decidir parar naquele sítio onde o nevoeiro não vai levantar. Lembre-se de que a decisão de o fazer cabe-lhe a si. A luz do sol pode estar a dois passos! Você é a única pessoa responsável pelas escolhas da sua vida e é você que deve assumir os seus resultados.

Em síntese:

– Apesar de tipicamente as pessoas serem mais conservadoras em momentos de crise, as mudanças de carreira podem e devem ser equacionadas em qualquer altura. Até porque uma mudança de carreira leva tempo, e o facto de nos começarmos a preparar para ela, com ações muito concretas, não significa que mudemos imediatamente. Portanto, este é um bom momento para nos pormos em movimento.

– Uma mudança de carreira é diferente de uma mudança de emprego e não é de facto para todos. O grau de motivação para a mudança tem mesmo de ser elevado para conseguir lidar com tudo aquilo que é tão diferente do que temos conhecido.

– Experimente aplicar as 5 recomendações que partilhámos acima:

  1. Seja curioso: identifique temas onde sinta curiosidade e comece a explorá-los.
  2. Identifique o que já sabe fazer: Faça o levantamento das suas competências e qualificações que lhe interessa continuar a aplicar.
  3. Fale com pessoas: Saia do circuito habitual e dê particular atenção às pessoas mais distantes, e/ou que não vê há mais tempo, porque essas é que têm potencialmente mais para lhe ensinar ou, por serem desconhecidas, fazem algo que lhe interessa com pontos de partida improváveis de percursos não lineares.
  4. Experimente ações diferentes.
  5. Aceite que existe um período de transição, onde é melhor abandonar o perfecionismo e abraçar a vulnerabilidade como parte do processo. É difícil, mas necessário.

 

Assista aqui à Career Conversation integral com os exemplos de pessoas que acompanhámos para ter maior profundidade no tema.

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