Este foi o tema escolhido para a 5ª sessão das ‘Career Conversations’. Um espaço de conversas com significado em que desafiamos os paradigmas da vida profissional e abordamos tópicos sobre os quais pouco se fala.
Para clarificar este tema, conversámos sobre os seguintes aspectos:
- Conhecer e compreender a ‘armadilha’ que mencionamos,
- Quem se ressente desta armadilha,
- Factores que intensificam o problema,
- Recomendações.
Apresentamos-lhe uma breve síntese do que foi partilhado, podendo assistir à versão integral da Career Conversation aqui.
Qual é a armadilha suportada no pensamento: ’Já investi tanto!’?
Para muitas pessoas, há, por um lado, evidências claras que a função/situação actual é entediante ou insatisfatória e por outro, há outras opções alternativas que lhes são mais estimulantes. Só que estas opções vão numa direcção distinta daquela que a pessoa levou até agora. Perante essa constatação, a pessoa pondera em todo o tempo e investimento que acredita ser necessário para chegar ao novo destino. E isso torna-se de tal forma desencorajador que a maioria das pessoas, nesta situação decide acomodar-se à actividade actual. Porque, afinal de contas já investiu tanto para chegar ali e, não fará sentido desperdiçar tudo isso em prol de algo novo só porque lhe é estimulante! É neste raciocínio que reside a armadilha, porque leva a que a pessoa fique na relação profissional por receios e não porque se identifique com a mesma.
Esta armadilha pode ainda ser acentuada quando se pondera no investimento que a Organização também já fez, ou seja, se a Organização onde estamos já investiu na nossa formação, em certificações ou até num MBA. Tudo isso tende a fazer-nos hesitar ou recear uma saída, quando já se investiu tanto neste caminho profissional. Nós, investimos o tempo e energia. A Organização investiu dinheiro na nossa capacitação. Sentimo-nos mal com isso.
Mas este raciocínio é mesmo um sabotador. Se pensássemos sempre desta forma, ninguém faria mudanças na sua vida. Porque a partir do momento em que abraçamos algo, há sempre investimento. De ambas as partes. E não se revela adequado que este seja o único critério de decisão para se manter numa relação. É como vivermos numa casa arrendada e nunca nos permitirmos mudar para outra casa, só porque já pagámos tantos meses/anos de renda. Ou ao doarmos uma roupa que já não nos serve, e não nos fica bem, só porque foi cara. Ou pior, não fechar um negócio que continua a dar prejuízo, porque já se investiu imenso nele. Esta armadilha surge em vários aspetos da nossa vida, sempre que equacionamos libertar-nos de algo.
Quem se ressente desta armadilha?
Existe uma forte probabilidade de todos nos tornarmos reféns desta armadilha. Contudo, da nossa experiência as pessoas que denotamos manifestar com mais frequência os seus efeitos são os mais jovens. As pessoas que estão na casa dos 20/30 anos. Estas pessoas começaram desde os seus 15/16 anos a preparar-se para uma determinada direcção de carreira. Muitas vezes, numa fase inicial fazem opções genéricas para ganhar tempo e à medida que vão fazendo o seu percurso vão adquirindo uma ideia mais definida do que querem fazer. Só que chegadas ‘lá’, sentem o ‘tal vazio’. A ausência de sentido para si.
Quais são os factores que intensificam o problema?
O primeiro factor são as expectativas dos outros. Em particular dos pais ou dos familiares que financiaram a sua preparação para a carreira que já iniciaram.
Há um receio de crítica, de ausência de compreensão e até de conflito pelo facto de assumirem perante estas pessoas que aquilo que se escolheu até ali poderá não ser o certo para si. Isso leva a comportamentos de resistência, a protelar a situação e a tentar conviver com a mesma. Tudo isso acaba por ser complementado com perdas de desempenho profissional e com incremento relevante de níveis de angústia.
O segundo factor que intensifica o problema, tem a ver com a formação que acreditamos ser necessária para nos prepararmos para aquilo que ambicionamos.
A maioria assume que terá de fazer cursos académicos longos para essa transição e isso até poderá ser assim – ou não! Isto em parte é muito estimulado pela cultura vigente que afirma que para podermos assumir que somos competentes em algo, precisamos de um diploma que o formalize. Isso não é verdade para todos os casos.
Há inúmeras formas de fortalecer competências igualmente válidas, como cursos de especialização, cursos técnicos, experiências que desenvolvemos em projectos paralelos e inclusive mentoria. Muitos deles muito mais ricos do que licenciaturas.
Tudo isso é também reforçado pela tendência das pessoas se focarem de imediato naquilo que não têm. Sem sequer terem realizado uma análise prévia de todas as aprendizagens e experiências acumuladas que demonstrem a existência/ausência das competências base necessárias para o seu foco de futuro. Às experiências e conhecimentos que se comprovem relevantes para futuro e que já temos, dá-se o nome de competências transferíveis. Precisamente por serem relevantes e úteis para a nova área/foco de trabalho.
O terceiro factor que convém salientar é a idade. Tal como referimos em cima, temos evidências de que as pessoas que estão na casa dos 20/30 anos sentem esta armadilha de forma mais intensa. E é compreensível. Olhando em retrospectiva para o seu tempo de vida e vendo bem as coisas, a maioria da sua existência foi passada a investir para estar na situação actual. Com uma agravante cultural: Existe a pressão generalizada que até aos 30/40 anos devemos chegar ao topo da carreira e nos tornármos nos melhores naquilo que fazemos. E isso, pensam a maioria, não será compatível com desvios de percurso. Por isso surgem facilmente associações mentais de perda. Exemplos:
>A pessoa considera que está num patamar de desempenho considerável e com a mudança passará a ser um júnior comparado com os outros que já estão no percurso desejado desde sempre;
>Receio de perda de remuneração;
>Menor acesso a oportunidades por estar a iniciar mais tarde.
Temos evidências de casos que acompanhamos em que não é necessariamente assim. Porque, e reforçamos, sem identificarem previamente as experiências e as competências que são transferíveis para o novo percurso que se pretende fazer, todas as conclusão serão precipitadas.
Portanto a recomendação aqui é: Primeiro parar e fazer uma análise do que já se tem.
Esse é de resto um exercício vital que convidamos todas as pessoas nos processos individuais e do Acelerador Career Redesign® a fazer. É determinante para construir uma base realista do ponto de onde se está a partir.
Recomendações
Já mencionámos algumas recomendações, mas gostaríamos de acrescentar a importância de conhecer pessoas mais velhas realizadas nas suas áreas. Ao identificar pessoas que não se conhece e que já fazem o que se vê a fazer, e ainda que tenham partido de um background em nada relacionado com a carreira actual, podem procurar informação sobre a sua história ou conversar com essas pessoas para perceber como conseguiram chegar até onde estão hoje.
Aliás esse é o mote de imensos livros e podcasts disponíveis hoje em dia, sobre mudança. Nomeadamente o podcast ‘Quero, Posso e Mudo de Carreira’(. Mas há outros, como por exemplo o podcast ‘Mais Novos do que Nunca’ que era conduzido pelo Pedro Rolo Duarte na Antena 1.
É por demais relevante que todos os testemunhos sejam partilhados, para desconstruir barreiras inúteis à vivência de uma vida plena e com significado. A vida não será perfeita. Vão existir dificuldades. Mas a forma como lidamos com elas quando acreditamos em algo com o qual nos identificamos assente num propósito é completamente diferente e isso faz-nos sentir pessoas capazes. No limite, é o que todos procuramos: Sentirmo-nos capazes!
Em síntese, a armadilha que abordámos manifesta-se nas pessoas que fizeram um investimento de preparação para a carreira na qual estão hoje e perante a evidência de que não lhes serve. Essas pessoas resistem à possibilidade de explorar a mudança face aos custos e perdas que imaginam que possam ter. É algo que pode afectar qualquer um, mas denota-se em maior frequência nas pessoas que estão nos 20/30 anos.
Os seus efeitos são intensificados por factores como:
- O receio de desiludir, entrar em conflito com pessoas que financiaram/ apoiaram as escolhas até aqui;
- Partir do pressuposto que terá de tirar cursos académicos longos e dispendiosos;
- Olhar para o tempo necessário para a preparação da mudança face a todo o tempo de preparação até hoje.
Como grandes recomendações sugerimos:
- Aceitar o que está a acontecer. Protelar vai intensificar o problema.
- Analisar o que já se tem em termos de conhecimentos, experiências e competências que é transferível para os novos cenários aspirados.
- Encontrar diferentes possibilidades de preparação para colmatar gaps que não sejam tirar uma nova licenciatura. E para isso aprender com as experiências de outros que já estão onde quer estar.
Para finalizar, acrescentamos ainda que de uma forma geral temos uma baixa literacia em gestão de carreira. E conhecimento é poder. Se queremos assumir as rédeas na nossa vida, precisamos investir em conhecimento de gestão de carreira.
Assista aqui à Career Conversation integral com os nossos exemplos pessoais, bem como os exemplos de pessoas que acompanhámos.
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