Frequentemente deparamo-nos com situações em que as pessoas foram desvalorizando os sinais que foram tendo sobre o ‘estado’ da sua relação profissional. Não os levaram a sério. Por isso, não é raro chegarem até nós num momento em que o seu desafio ganhou complexidade e pior, a confusão mental e emocional aprofundou-se.

Por isso preparámos na sessão 13 das Career Conversations, um conteúdo que o(a) vai certamente esclarecer:

  • Inventário de sinais a que é importante estar atento e sensações associadas;
  • Ações a implementar para o(a) ajudar a lidar com a situação;
  • Exemplos reais.

Apresentamos-lhe uma síntese do que foi partilhado, podendo assistir à versão integral da Career Conversation, a qual inclui a partilha de casos reais e às perguntas e comentários de quem participou.

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Algo está errado na minha carreira: Sinais e ações!

Este é um tema incontornável. Precisamente pelo que acima partilhámos. Após meses e até anos a desvalorizar sinais importantes, quando as pessoas chegam a nós, o desafio ganhou complexidade e as próprias sentem-se confusas, perdidas e inseguras. Verdade seja dita que muita gente desenvolveu uma enorme resiliência em prol da manutenção da sua relação profissional. Vão suportando situações difíceis na esperança de que as coisas se resolvam. Até que um dia se instala uma certeza: a situação não vai melhorar per si! Nesse momento, desencadeia-se um processo que raramente é fácil, mas saudável e necessário.

Por isso, apresentamos-lhe alguns dos sinais a que é necessário estar-se atento e que são susceptíveis de desvalorização por si ou por outros em seu redor. Partilhamos também estratégias que sabemos ajudar a acolher esses sinais e a agir de um modo produtivo e construtivo.

Sinais a que deverá dar atenção:

1º Sinal – A sensação de se sentir bloqueado(a).

Está num trabalho que em tempos lhe encheu as medidas, tendo-se progressivamente tornado menos interessante. Agora representa uma fonte de desgaste ao ponto de questionar o sentido do seu dia a dia profissional. Nesta situação, a pessoa sente-se muitas vezes bloqueada, inquieta. A navegar sem rumo, mas não consegue mudar ou sequer compreende o problema. Muitas vezes surgem até manifestações emocionais abruptas, como sejam reacções de exaltação, choro…

Um exemplo recente deste sinal foi o de alguém que teve um período áureo de realização quando abraçou o seu primeiro papel na organização. Depois foi sendo desafiado pela empresa para sucessivas alterações às suas atividades centrais, até ao dia em que deixou de conseguir responder. Gerou-se em si uma enorme frustração. As alterações do conteúdo do trabalho colocaram esta pessoa numa zona de insegurança e de inexperiência. Mas esse discernimento não teve o seu lugar e quer a pessoa quer a organização partiram da premissa de que seria suposto ser capaz de fazer. Conclusão: A confusão instalou-se, a pessoa bloqueou e deixou de conseguir trabalhar.

Noutro caso, a pessoa escolheu uma entidade pelo alinhamento do propósito desta com o seu. Após dois anos de relação sentiu uma enorme desilusão, mas sem perceber bem o porquê. Quando começámos a trabalhar com esta pessoa, ela concluiu que os pressupostos com que aceitou o desafio mudaram sem que se tenha dado conta disso. Continuou por isso a actuar com base na premissa inicial, que deixou de ser válida, o que lhe causou uma enorme confusão.

Quer num caso, quer noutro as pessoas mantiveram-se no seu modus operandis na esperança vã de que algo melhorasse (não sabiam bem o quê), tendo presente uma âncora necessária nas suas vidas – honrar as suas responsabilidades financeiras. Mas não melhorou. Agarrar-se à segurança só piorou a situação.

2º Sinal – A sensação de me sentir ‘aborrecido(a)’.

Este sinal é muito particular, porque as pessoas sentem-se culpadas se admitirem o seu aborrecimento em relação ao trabalho que desenvolvem. Nestes casos, as pessoas cumprem com as tarefas da sua responsabilidade e com os objetivos da organização, mas na verdade, isso não lhes diz nada, perderam o interesse.

Nestas situações a culpa vem muitas vezes associada ao facto de não lhes faltar nada (entenda-se: trabalho, estabilidade, reconhecimento, status) e por isso não estará correto ou adequado verbalizar ou admitir sequer este aborrecimento. Muitas reforçam essa crença, quando evocam aquele dito popular: ‘se trabalhar fosse bom, não nos pagavam para isso’.

Referimos a propósito o caso de alguém que participou no nosso processo de Acelerador Career Redesign ® – Esta pessoa fazia o que era suposto, mas foi perdendo o interesse e depois a paciência, derivando gradualmente para uma lógica de fazer os mínimos. Às tantas, sentia-se culpada porque foi baixando o seu desempenho habitual! Para seu azar ou sorte, a situação foi-se agravando porque a organização decidiu atribuir-lhe mais responsabilidade na área que já não lhe interessava. Estava mesmo em areias movediças. Quanto menos se interessava, mais se enterrava. Muitas vezes verbalizou que estava desmotivada, a empresa interpretava isso, como querendo mais responsabilidade. A pessoa não foi clara no que pretendia e isso contribuiu para o agravar da situação. Na verdade, a pessoa não sabia o que queria, só sabia que se sentia aborrecida e impaciente. Fica claro com este exemplo, a importância de se passarem as mensagens certas e concretas.

3º Sinal – A sensação de que ‘Não sou a pessoa que quero ser’. ‘Já nem me reconheço’.

Este sinal pode decorrer de uma ausência de atuação perante os dois cenários anteriores. Pode ser intensificado pelo facto de se ir adaptando gradualmente a certos modus operandi culturais, a certas regras implícitas e acabar por se render a uma rotina incompatível com quem se é e com o que verdadeiramente se deseja, alegando muitas vezes razões maiores para o fazer. Observamos que este sinal poderá manifestar-se em pessoas entusiastas em relação ao que acreditam e são capazes, mas que de alguma forma para serem aceites ou sobreviverem na relação profissional, vão-se adaptando gradualmente sem se aperceberem que se estão a afastar de si próprias. Há sempre um dano colateral nestas escolhas.

Damos o exemplo de um caso de alguém que depois de uma fase de grande concretização e protagonismo, se viu num jogo de competitividade organizacional que fez despertar os seus piores lados. Na verdade, a sua actuação tornou-se muito próxima da daqueles que criticava em seu redor. Claramente um exemplo em que acabamos por nos moldar, da pior forma, ao contexto que nos rodeia. O problema é que acreditamos que tem que ser assim e que não há outra hipótese.

4º Sinal – ‘É contra a minha ética’; ‘Vai contra os meus valores’.

Esta perceção ou verbalização, é o sinal evidente de que se impõe um reality check. Surge geralmente perante um conjunto de situações em relação aos quais se vai sentindo um desconforto crescente ou perante um evento em que isso se torna perfeitamente evidente. Quando este é o caso, existe geralmente um conflito de valores incontornável. A forma como observamos que determinados assuntos são geridos ou decididos colide com os nossos valores pessoais.

Refiro aqui o meu exemplo (poderá descarregar as primeiras 50 páginas do livro ‘Quero, posso e mudo de carreira’) – decidi sair de uma organização com gestão autocrática e manipuladora por colisão com a minha forma de gestão – participativa e respeitadora.

Houve um momento em que percebi que já não tinha mais margem para influenciar e isso clarificou o fim da linha.

5º Sinal – ‘Impossível ignorar o chamamento’, ‘Não dá mais para negar’.

Nestes casos, a pessoa sente um apelo irresistível perante determinada missão ou propósito, canalizando toda a sua atenção e energia para o tema em todas as oportunidades. É como se sentisse que tem algo a fazer e não o consegue evitar.

Nestes casos, é muito frequente as pessoas levarem vidas paralelas. Durante a sua jornada diária de trabalho sentem que a sua vida fica em stand by e a marcar passo. No seu tempo pessoal, toda a energia é canalizada para o estudo e contribuição para a missão aspirada. Só se pensa nisso, só se lê sobre isso, devoram-se livros, fazem-se cursos, participa-se em iniciativas que contribuem para o tema, evangelizam-se as pessoas em seu redor. Respira-se por todos os poros a sua crença potenciadora. E, no entanto, 5 dias por semana, 8 horas por dia vive-se num papel que se sente vazio. Que não diz nada, a não ser que se lhe atribua um novo significado.

6º Sinal – Apercebo-me que ‘A vida é curta. Por isso, é agora!’

Muitas vezes este sinal decorre de um evento traumatizante ou de uma crise existencial, que nos obriga a lançar um novo olhar sobre a vida que levamos. Pode resultar de uma doença, de um divórcio, da perda de alguém próximo ou de uma pandemia como aquela que entrou nas nossas vidas em Março de 2020, nestas situações, o que parecia prioritário num espaço de semanas altera-se.

No caso recente da pandemia, observámos de forma muito evidente que as pessoas tendo tido a oportunidade de parar e vendo-se privadas de distrações às questões latentes que pairavam, viram-se confrontadas, durante os confinamentos, com o facto de que o caminho que estavam a levar não era satisfatório.

Também não tem sido raro, perante a perda de familiares ou amigos próximos, ou até ao aproximar-se de uma determinada idade, a pessoa reequacionar que talvez seja a altura de fazer mudanças na sua vida que lhe proporcione mais sentido.

Ações recomendáveis:

Escolhemos partilhar estratégias que são válidas perante qualquer um dos sinais, sendo que pode optar por uma ou pela combinações de várias.

1ª Recomendação: Dedicar atenção, porque não vai passar. Não se resolve per si!

É preciso dedicar tempo ao assunto e há várias formas de o fazer. Umas mais radicais, outras mais subtis:

  • Pedir uma licença sem vencimento, para explorar outras possibilidades, estudar, atualizar-se, ou até viajar.
  • Pedir uma redução da carga horária a 4 dias por semana ou a x horas por dia, durante um determinado período de tempo, sendo o tempo restante dedicado a desenvolver ações angariadoras e validadoras de resposta.
  • Planear umas férias dedicadas ao tema, envolvendo algum tipo de iniciativa de desenvolvimento pessoal, para potenciar a reflexão com novas ferramentas.
  • Dedicar todas as semanas um bloco de tempo para o efeito, munindo-se de ferramentas auxiliares (livros, cursos). Muitos dos profissionais que acompanhamos para se centrarem e manterem os seus níveis de consciência marcam reuniões consigo próprios ao longo da semana, com agenda específica de trabalho dedicado a si próprios.

2ª Recomendação: Participe e comprometa-se com um programa de grupo.

Para muitos de nós funciona melhor assumir compromissos com terceiros para dar atenção a um aspecto específico/desafio. Nesse sentido, há quem prefira participar de iniciativas em grupo para contornar o seu próprio auto boicote e alimentar-se das partilhas de outros que estejam em situações com as quais se identifique.
Damos exemplos de programas que consideramos relevantes para quem sente os sinais descritos.

  • O nosso programa Acelerador Career Redesign® que se destina a criar condições para elencar cenários profissionais alinhados com quem se é,
  • Masterminds – que são iniciativas em que pessoas com objectivos em comum, se juntam periodicamente para desenvolverem estratégias em relação a esses objectivos,
  • Participar de uma Masterclass – que são iniciativas conduzidas por um especialista no tema e que permite aceder a conceitos e ferramentas potenciadoras de desenvolvimento,
  • Programas de Liderança, pois no limite as questões relacionadas com a nossa vida profissional mais não são do que sinais que precisamos de perceber como estamos a exercer a nossa liderança pessoal.

3ª Recomendação – Criar as suas próprias estruturas ou práticas reflexivas.

Como deve imaginar não basta bloquear tempo. É importante planear formas que funcionem para cada um de nós para que esse tempo se torne produtivo e com sentido. Que nos crie até a vontade de o praticar regularmente. O princípio que deve ser salvaguardado é que o que quer que seja que implementemos, nos permita afastar de todas as exigências e acolher os nossos pensamentos.

Damos algumas sugestões:

  • Caminhar na natureza e reflectir sobre o tema em mente. Há quem ouça podcasts específicos em simultâneo e isso lhe traga uma nova perspectiva. Podem ser por si só ações isoladas ou um 2 em 1.
  • Realizar trabalhos manuais ou até de organização/ arrumação pois isso dá-nos um foco construtivo ao mesmo tempo que vai surgindo o tema e o vamos abordando de uma forma mais criativa e organizada que reflecte o mindset com que estamos a abordar a tarefa que estamos a realizar.
  • Procurar comunidades de partilha sobre o tema que quer trabalhar em que as pessoas falam da sua experiência sem filtro e verbalizam como já lidaram com os seus desafios.
  • Fazer journaling, ou seja, escrever de forma livre sobre as nossas preocupações e dilemas. Colocar por escrito, liberta espaço mental e muitas vezes surgem abordagens durante a escrita que não surgem quando estamos em ruminação. Por outro lado, quando o tema regressa pode e deve reler o que já escreveu para não voltar à espiral viciada que é o nosso pensamento.
  • Procurar exercícios específicos que lhe permita responder a perguntas que ainda não se fez a si. Pode encontrar no nosso site vários exercícios que pode realizar, na secção dos artigos, bem como no livro Quero Posso e Mudo de Carreira.

4ª Recomendação – Trabalhar com um profissional.

Sem dúvida, esta opção é aquela que acelera e cria ritmo no processo de crescimento pessoal e gera transformação. Alguém disse, que o mindset com que se criam soluções tem de ser diferente do mindset que origina o problema. Desafiar o mindset, os paradigmas, ajudar a identificar as crenças bloqueadoras e os ângulos mortos é o que faz um profissional treinado e qualificado.
Recomendamos que recorram nesse sentido a Coachs, Terapeutas e Mentores, estes são os profissionais que o desafiam. Os consultores e advisers ajudam noutras perspectivas mas não necessariamente na sua capacitação e desenvolvimento.
Informalmente pode ainda recorrer a pessoas da sua rede que já tenham passado por algo próximo e que tenha a generosidade de partilhar consigo o que o ajudou. Mas não peça aconselhamento, isso não o(a) vai servir.

5ª Recomendação – Encontrar um novo sentido no que já existe!

Nem sempre é viável deixar o emprego quando o desejamos ou mudar para algo novo, ainda que a situação actual seja indesejável. Recomendamos que escutem a nossa Career Conversation específica sobre este tema: Quero, mas ainda não posso mudar.

Costumamos advogar que a situação actual pode ser um excelente campo de treino e de musculação do que você precisa desenvolver em si, para se preparar para o próximo nível de jogo. Pode aproveitar a relação actual para desenvolver a sua afirmação, a sua assertividade, a sua capacidade de influência, a sua capacidade de lidar com chefias difíceis. Ou pode até dar um novo significado e papel à relação actual na construção do cenário de futuro que deseja.

Conclusão

Abordámos 6 sinais relevantes que são indicadores de que algo não está bem na sua relação com a vida profissional. Bem como os aspectos que os suportam para que compreenda que o que está a acontecer consigo não é exclusivo e acontece muitas vezes com muitas outras pessoas:

  1. ‘Sinto-me bloqueado(a)’ – algo não está bem, mas não sei o que é.
  2. ‘Sinto-me aborrecido(a)’ – o trabalho deixou de me estimular.
  3. ‘Não sou a pessoa que quero ser’ – estou a representar um papel que não tem a ver comigo.
  4. ‘É contra a minha ética’; – sinto que estou a fazer algo que ‘Vai contra os meus valores’
  5. ‘Impossível ignorar o chamamento’, ‘Não dá mais para negar’ – existe outra coisa que me enche as medidas e preciso de fazer isso.
  6. ‘A vida é curta. É agora!’ – Aconteceu algo que me fez pôr tudo em causa.

Clarificámos também que quanto mais tempo ignorar, se autopunir ou negar o que sente mais irá contribuir para intensificar a situação, podendo esta escalar para cenários mais complexos dos quais poderá ser mais desafiante sair.

E finalmente apresentámos-lhe um conjunto de 5 recomendações que o(a) convida a dar um foco privilegiado ao tema e a perceber o que funcionará para si, com base no seu autoconhecimento. Um convite a actuar nos seus moldes, mas a actuar para se apropriar do controlo da sua vida e se sentir melhor na sua pele:

  1. Dedicar atenção, porque não vai passar. Não se resolve per si!
  2. Participe e comprometa-se com um programa de grupo.
  3. Criar as suas próprias estruturas ou práticas reflexivas.
  4. Trabalhar com um profissional.
  5. Encontrar um novo sentido no que já existe!

Assista aqui à Career Conversation integral com os exemplos de pessoas que acompanhámos para ter maior profundidade no tema.

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