Começámos 2021, explorando este tema na 4ª sessão das ‘Career Conversations’. Um espaço de conversas com significado em que desafiamos os paradigmas sobre a vida profissional e a realização. Tudo isto por forma a apoiar uma navegação mais saudável da carreira.
Nesta conversa, falámos dos seguintes aspectos:
1º O que é a síndrome do impostor?
2º Quem sente esta síndrome?
3º Estratégias para lidar com esta síndrome em diversas situações, nomeadamente perante novas funções/desafios e entrevistas.
Apresentamos-lhe uma breve síntese do que foi partilhado, podendo assistir à versão integral da Career Conversation aqui
O que é a Síndrome do Impostor?
É uma manifestação suportada no conjunto de pensamentos que desenvolvemos e que nos levam a concluir que não seremos bem sucedidos em algo importante, tendo em conta o que sabemos acerca de nós próprios. Nomeadamente, o quão inseguros e ansiosos nos sentimos perante a situação/desafio em causa. Sobrevalorizando as nossas fragilidades e desvalorizando as forças. Logo, acreditamos que a possibilidade de sucesso estará reservada aos outros. A alguém mais confiante e preparado do que nós. A manifestação desta síndrome pode passar pela desistência sem sequer se ter começado e/ou actuar de forma muito condicionada.
A síndrome surge quando sentimos que estamos perante um desafio, seja ele de índole profissional ou pessoal. Convém salientar que este síndrome tende a exacerbar-se quando nos comparamos aos outros, sendo esta uma forte tendência presente nas nossas vidas. O risco de o fazermos reside em leituras enviesadas e conclusões infundadas pois comparamos a fotografia completa que temos de nós próprios com uma pequena parte da informação sobre os outros e que geralmente enaltece as suas forças. Não tendo nós ideia das suas fragilidades. Por conseguinte, esse exercício pode exacerbar a nossa insegurança. Logo é desaconselhado.
Tendo por base a intensificação da Síndrome do Impostor provocada por esta comparação com outros, a primeira recomendação que fazemos é que deixe cair essa prática e doseie o consumo de redes sociais, nas quais as pessoas tendem a partilhar apenas as suas forças e lados positivos de vida. Não o seu lado B e a vida como ela é.
Quem é que sente este síndrome?
Todos, sem excepção! Todos sentimos esta insegurança em determinados momentos da nossa vida. Geralmente nas situações que nos colocam na nossa zona de desconforto, em que percepcionamos que o desafio nos transporta para algo novo, desconhecido. Por exemplo: quando nos atribuem novas responsabilidades, novas funções ou até quando iniciamos num novo emprego!
Convém também salientar que muitas das pessoas que percepcionamos terem sucesso nas suas vidas passam por esta sensação de serem impostoras. Dois exemplos conhecidos são Albert Einstein e Belmiro de Azevedo (Carregue nos links e saiba de que forma eram afectados por este síndrome). Logo, o síndrome do impostor não desaparece com o sucesso. É salutar aceitar que faz parte da nossa natureza humana. É crucial abordar abertamente deste assunto. Todos nós temos medos, inseguranças. É o que nos une enquanto seres humanos. Alain de Button, fundador da The School of Life usa uma metáfora atípica quando fala deste síndrome: Ele refere que todos nós vamos à casa de banho. Contudo ninguém consegue imaginar esse lado nas pessoas que admira!
Isto para enaltecer que todos temos o mesmo tipo de emoções independentemente do status, da função e do sucesso que temos. Que é o mesmo que dizer que todos vamos à casa de banho, parafraseando Alain de Button!
Se não soubermos gerir este síndrome, teremos comportamentos prejudiciais, nomeadamente:
– Não partilhamos as nossas ideias/opiniões
– Não nos candidatamos a oportunidades, programas que nos são relevantes e interessantes
– Não manifestamos as nossas vontades nas Organizações.
Podendo com isso perder algo nas nossas vidas.
Que estratégias podemos usar para gerir esta Síndrome?
1.Caso esteja perante um desafio novo, no qual não têm experiência prévia:
Sugerimos colocar a situação sob uma perspectiva diferente. Podemos não ter experiência, mas que outras capacidades e forças teremos que podem fazer toda a diferença?
- Um olhar fresco. Com isso podemos fazer perguntas que ninguém ainda se lembrou de fazer e abordar problemas de novas formas.
- Podemos ter competências chave para o desafio. Convém ter presente que perante um Mundo VICA (Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo) em constante mudança são cada vez mais os desafios nos quais ninguém tem experiência prévia. Acabámos de assistir a isso com a entrada da Pandemia. Todos tivemos de lidar com novos desafios de forma rápida e com os recursos disponíveis.
- Podemos também focarmo-nos no que podemos aprender da situação. Isso permite lidar com a situação de uma forma mais aberta e construtiva e doseia o medo do resultado não ser perfeito ou o ideal.
Em suma, estes exemplos reforçam a importância da perspectiva. Em vez de nos focarmos no que nos falta, olhar para o que temos que pode ajudar na situação e adoptar uma atitude de aprendizagem.
2. Caso esteja perante uma situação de entrevista:
As entrevistas são situações que deixam qualquer pessoa mais vulnerável, pela pressão de avaliação presente.
No caso das pessoas desempregadas a pressão aumenta pela importância que representa o emprego para a estabilidade financeira da sua vida.
- Para lidar com entrevistas, convém ter presente o objectivo do processo de entrevista. O objetivo da entrevista não é tanto validar as competências técnicas, porque essas já foram triadas na selecção prévia, mas saber o que não vem no currículo: nomeadamente como é trabalhar consigo. É importante que as pessoas consigam ter um vislumbre de como será tê-lo a bordo da equipa. Se poderá acrescentar e complementar a equipa que já existe. Esse é um aspecto importante na escolha da pessoa.
- Queremos ainda dar uma recomendação muito simples, mas que pode parecer surpreendente, que nos vem de uma investigadora social da Universidade de Harvard, chamada Amy Cuddy. Ela refere que a nossa postura física antes de uma entrevista importa, e muito. Nós sabemos isto da Programação Neuro-Linguística. A professora Amy Cuddy sugere que, antes da entrevista, não estejamos curvados a olhar para o smartphone, porque essa é uma posição física que transmite ao cérebro a sensação de falta de poder, de fragilidade. Pelo contrário, devemos adoptar uma “power pose”, isto é, uma postura de peito aberto. Ela sugere irmos à casa de banho e durante 2 minutos colocar os braços na cintura. Isso aumenta os nossos níveis de testosterona (associada à confiança) e baixa os níveis de cortisol (associado ao stress), ou seja, ficamos mais confiantes e menos stressados. Isto é um mecanismo puramente biológico e, estudado.
- A nossa terceira recomendação para dominar este síndrome em entrevista é potenciar a aprendizagem pela prática. Ou seja, encaremos a entrevista como uma oportunidade de aprender sobre o mercado, as necessidades das empresas e aprender sobre si próprio(a). O que se sente mais confortável em responder? e o que lhe gera mais desconforto? Integre as aprendizagens que vai fazendo nas entrevistas seguintes. Convém ter consciência que conseguir uma oportunidade à primeira tentativa é estatisticamente improvável. Se tiver essa perspectiva em mente, reduzirá em parte a pressão. Este é um aspecto que trabalhamos muito com as pessoas que acompanhamos. Muitas não vão a uma entrevista há 10/20 anos e esse passo pode tornar-se muito assustador. Mas com a perspectiva de que esse passo servirá para aprender sobre o que querem e não querem, as pessoas sentem-se capazes e relatam experiências muito agradáveis. Descobrem que muitas das suas perspectivas sobre o mercado já encontram eco noutras organizações.
- Por fim, uma quarta estratégia que recomendamos tem a ver com formas de acalmar os nervos. Nós não somos os nossos medos, nem a nossa ansiedade. E uma das formas de ultrapassar estados circunstanciais de ansiedade pode ser fazer um exercício de respiração profunda e dar um passeio. Dar um foco ao seu cérebro: fixar o nome de todas as pessoas que encontra até chegar à entrevista. Desviar o foco de si e colocá-lo na necessidade. Fazer perguntas sobre as necessidades da organização e compreender os desafios e estabelecer pontes com o que já viveu no passado que ajudou a lidar com situações próximas destas.
Para fecho, reforçamos que o síndrome do impostor acontece com todos nós quando queremos alcançar algo que é importante mas que nos coloca na nossa zona de desconforto. No Acelerador Career Redesign, o síndrome do impostor está sempre presente, pois na fase de identificar novos cenários profissionais as pessoas focam-se imediatamente no que não têm e desvalorizam o que têm. Podendo assim, retirar conclusões enviesadas sem confirmação de pressupostos. Por isso, incentivamos sempre a recolher mais informações para analisar mais assertivamente o ponto de onde estão a partir, antes de se porem a realizar investimentos desnecessários ou desistirem ainda antes de começarem!
Assista aqui à Career Conversation integral com os nossos exemplos pessoais, bem como os exemplos de pessoas que acompanhámos.
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