Este foi o tema escolhido para a 11ª edição das Career Conversations e com o qual festejámos um ano de duração desta iniciativa. Neste período propusemo-nos a explorar diferentes temas relacionados com a vida profissional e que nos tocam a todos em algum momento. Iremos continuar a realizar estas conversas com um calendário de tópicos ainda mais rico, de modo a dar-lhe um apoio relevante rumo à sua realização e sempre através da partilha de conhecimento e de experiências reais.
No conteúdo desta sessão abordámos:
- A relevância do autoconhecimento e os seus impactos,
- Três pilares por onde pode começar,
- Recomendações.
Apresentamos-lhe uma síntese do que foi partilhado, podendo assistir à versão integral da Career Conversation, a qual inclui a partilha de casos reais e às perguntas e comentários de quem participou.
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A relevância de saber ‘Quem Sou’ na gestão de carreira.
Da nossa experiência e de diversos estudos que explorámos, percebemos que este tema ganha especial preponderância a partir do momento em que os (1)“primeiros guiões pré-definidos de vida acabam — fez-se a escola primária, básica, secundário e faculdade, por exemplo. À medida que que se começa a ter dinheiro para tomar decisões, surgem novas perguntas:
- “Que contributo estou a dar ao mundo?”,
- “Faço mesmo aquilo que me realiza?”,
- “Sou feliz?”” e, acrescentamos nós:
- “Fiz tudo certinho, porque sinto este vazio?”,
- “Fiz o que me disseram que me iria trazer felicidade, mas não é isso que sinto…”
Estas partilhas típicas dos vinte e dos trinta anos, não são exclusivas a essas idades, também se manifestam nas apelidadas crises de meia-idade, aos 40 e aos 50 anos. Sendo inúmeros os fatores que nos levam a questionar nesta fase da vida, e nada consensuais entre os diversos autores. Há investigadores e terapeutas que dizem que nesta altura da vida, na chamada meia-idade, estamos a reinventar-nos enquanto pessoas, ao invés de continuarmos numa trajetória estável e ascendente, que esta fase representa a oportunidade de criar o estilo de vida fiel aos seus valores e aspirações. Contudo, há outros autores que defendem que nestas crises de meia-idade existe a perceção de menor possibilidade de escolha, algum arrependimento por decisões passadas a par da tirania associada ao processo de executar projetos um após o outro, desprovidos de significado. Uma repetição de vida, ano após ano.
Eu própria senti isso na minha carreira de consultoria. Os projetos já me pareciam todos iguais. Só mudavam as personagens e a geografia. Eu já não dava o melhor de mim. Entrei em piloto automático, numa espécie de vivência instrumental, tendo presente a necessidade de financiar a vida, sem estar ali completa e a dar o meu melhor.
Todos os sinais que aqui partilhámos, estão presentes em maior ou menor medida nos vários casos que acompanhámos até hoje, e que vão dos 25 aos 55 anos de idade. Ou seja, algo perdeu o sentido na vivência profissional. Esse é muitas vezes o ponto de partida, que nos leva a pensar sobre a vida e inevitavelmente sobre nós.
Até se pode ignorar os sinais durante um tempo, fingir que está tudo bem ou arranjar escapes para se distrair do problema que está a acontecer, só que essa não será a melhor abordagem e poderá originar uma maior ansiedade e até problemas mentais.
Do que temos assistimos na nossa prática, quando não se abraça a questão de frente e a pessoa não se dedica a aprofundar o seu autoconhecimento para encontrar respostas aos seus dilemas, acaba por tomar decisões suportadas no medo. O medo torna-se com frequência, o único critério que nos move ou nos imobiliza.
Nós ouvimos com frequência expressões como:
- “Para ter trabalho tenho de… mesmo que não me faça sentido”,
- “Para pagar as contas tenho de aguentar”,
- “Só posso ter sucesso se tiver algo que os outros me disseram que tem de existir (exemplo – determinado curso, relação ou comportamento, como ter de me vender) quando isso contraria a nossa natureza e convicções.
- “Aguenta-te mais 2 anos e tens a carreira feita!”.
Tantas vezes aguentamos em silêncio uma situação que claramente não nos serve, sendo geralmente nos momentos junto daqueles que nos são próximos que se dão as libertações de tensão. São exemplos típicos a irritação com o companheiro(a), o gritar com os filhos à mínima situação, a agressividade vinda não se sabe de onde, a incapacidade de se estar disponível para aqueles que gostamos porque estamos com a cabeça no problema. Tudo isso é sintomático, tudo isso indicia que há algo que precisamos fazer por nós, para estarmos bem com os outros e a nossa vida.
Daniel Goleman, cientista de referência na área da Inteligência Emocional refere no seu livro Foco que uma vida bem vivida implica a utilização de um trio de focos: foco interno, foco nos outros e foco externo.
• O foco interno harmoniza-nos com as nossas intuições, os nossos valores orientadores e melhores decisões.
• O foco nos outros facilita as nossas ligações com as pessoas na nossa vida.
• O foco externo permite-nos criar a consciência sistémica que ajuda a compreender o funcionamento de uma organização, de uma economia ou de outros sistemas no mundo.
Uma pessoa dessintonizada do seu foco interno andará sem rumo, uma pessoa cega ao mundo dos outros será insensível, distante e pouco empática; e aqueles que forem indiferentes aos sistemas mais alargados no interior dos quais operam terão, claramente, limitações e pouca informação para tomar as melhores decisões, porque não consideram o que se passa à sua volta.
Ou seja, quem efetivamente pretenda construir a carreira e a vida que almeja terá obrigatoriamente de prestar a devida atenção aos seus recursos internos e autoconsciência. Isso só se consegue aprofundando o autoconhecimento.
Por isso voltamos à questão fundamental: Quem sou eu?
O que é relevante saber sobre mim que seja um pilar de apoio para a realização?
Escolhemos partilhar consigo, três aspetos que nos parecem essenciais para que encontre as respostas por sua própria iniciativa.
1. Conheça as suas forças
Peter Drucker, nas suas várias publicações sobre gestão e ainda no séc. XX referia que os trabalhadores do conhecimento – entenda-se aqueles cujo foco do seu trabalho é centrado em conhecimento intelectual – terão de aprender a gerir-se a si próprios e a sua carreira, quebrando o paradigma vigente de até então: ser operacional (actuar segundo instruções) ou seguir a profissão da família. Hoje em dia, achamos que já não fazemos aquilo que nos mandam, e que somos donos das nossas escolhas, mas muitas delas fazem parte de um paradigma que herdámos, e, portanto, não são verdadeiramente nossas.
Drucker, recomenda que os profissionais se posicionem para dar o seu melhor contributo que é suportado nas suas forças, no que se faz bem. Só que segundo ele, a maioria das pessoas sabe no que não é bom o que é natural, pois biologicamente e por questões de sobrevivência, o nosso cérebro foca-se por defeito no negativo e naquilo que pode correr mal. Temos assim, um enviesamento natural para focarmos em primeiro lugar aquilo em que não somos bons, o que não conseguimos, os nossos defeitos. Contudo, só poderemos ter impacto positivo e relevante a partir das nossas forças.
Nós subscrevemos na íntegra o que Peter Drucker alertou há tanto tempo. As pessoas sabem o que não têm e no que não são boas, mas têm uma extraordinária dificuldade em identificar o que têm a seu favor e as suas forças.
Como pode identificar as suas forças?
Uma das recomendações de Drucker, é apostar na análise de feedback como prática regular. Isto é, pedir feedback a cada projeto, desafio, mudança ou objetivo, sobre os aspetos positivos que se destacaram no seu contributo.
Outra recomendação que podemos sugerir é ficar atento aos motivos pelos quais as pessoas na sua vida em geral o(a) procuram e pelas quais você gosta de ser procurado(a). O que lhe é pedido?
Aplicando estas recomendações para identificar as suas forças, o desafio a partir daí será o mais possível propor-se a projetos e funções onde as mesmas sejam críticas e apostar em fortalecê-las. Cada vez mais. Isso vai-lhe trazer uma sensação de crescimento e não de vazio.
2. Identifique os seus valores pessoais
Voltando a referir Goleman: O foco interno harmoniza-nos com as nossas intuições, os nossos valores orientadores e melhores decisões. Ou seja, os nossos valores ajudam-nos a fazer escolhas difíceis, e, portanto, a tomar decisões que contribuam para o nosso sentido de integridade.
Stephen Covey, autor do livro ‘Os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes’ defende que se a nossa atuação se pautar pelos valores internos, ou seja, pelo nosso código de ética interno ficaremos menos vulneráveis e dependentes do que acontece exteriormente e mais seguros de nós, na navegação pela vida.
Mas não é só na tomada de decisões que poderá aplicar os seus valores, na análise das situações também. Experimente identificar os seus valores e olhar para a função e a relação profissional que tem hoje, seguramente far-se-á luz sobre muitos dos aspetos que lhe estejam a causar ansiedade.
Posso partilhar que um dos meus valores é a Empatia. Por causa disso, já me separei de relações nas quais o tratamento às pessoas era desumano e em relação às quais eu não tinha capacidade de influenciar.
Como pode identificar os seus valores pessoais?
- Pense em situações difíceis em relação às quais teve de tomar uma decisão – o que é que suportou essa decisão e o(a) fez dormir de consciência tranquila? Poderá ter sido: honestidade, confiança, transparência, liberdade, estabilidade.
- Pense numa pessoa com quem sente grande dificuldade de se relacionar – qual é aquele aspeto que a pessoa demonstra que o(a) afasta? Agora coloque esse aspeto pela positiva e terá muito possivelmente um dos seus valores.
3. Desafie o mindset com que olha para a sua relação ou situação profissional.
Vários autores afirmam (e nós sabemos que assim é) que para a maioria das pessoas, a satisfação no trabalho não requer necessariamente uma mudança de carreira ou de emprego. Muitas vezes a solução passa pela mudança de mindset. Dito de outra forma, a mudança de perspetiva ou o ângulo sobre a situação. Em todos os casos que acompanhamos, com a mudança de mindset, há mudança de comportamentos que influenciam ganhos diretos e indiretos na carreira, como o aumento de influência na organização, promoções, convites para novos projetos.
Como ocorre esta mudança de mindset?
Comecemos pelo início – Quando estamos em crise, a tendência é endereçar o tema colocando perguntas de forma autocentrada como por exemplo:
- “O que recebo do trabalho ou do esforço que faço?”
Geralmente esta pergunta vem acompanhada de um tom de zanga e ressentimento e resume-se a respostas relacionadas com benefícios tangíveis como o salário, prémios, número de dias de férias, olhando para o trabalho como algo redutor e instrumental.
Mas se se mudar a pergunta, a perspetiva muda. Um exemplo: há pessoas que nos dizem que se sentem insatisfeitas porque querem dar um contributo relevante, querem ter um trabalho com mais significado. Então, pergunte-se: de que forma o meu trabalho atual contribui para algo e alguém? Sabe responder? Não sabe? Então poderá estar demasiado distraído(a) em atitudes de vitimização.
É possível mudar este mindset. Quer ter relevância, quer contribuir? Então recomendamos que descubra por si qual a relevância do seu trabalho agora. Existe sempre. Pode ou não ser a suficiente para si, mas está lá. Podem ou não reconhecer o seu contributo, mas se o que o seu trabalho representa não fosse importante, útil ou necessário não lhe pagariam para o fazer.
Como pode trabalhar o seu mindset?
O primeiro passo é mudar as suas crenças sobre o trabalho e aceitar que é possível ser feliz no seu trabalho. Essa é a maior mudança de mindset que podemos fazer.
Porque muitos de nós traz enraizada uma percepção de que o trabalho será apenas um meio de subsistir e que isso basta. Todos conhecemos aquele dito: “Se trabalhar fosse bom, não nos pagavam para isso”, tantas vezes referido com tom irónico. Todos sabemos o que acontece quando vivemos com base nessa premissa. Não é o melhor de nós que vem ao de cima, muito pelo contrário. O trabalho pode ser uma fonte de gratificação, pode ser algo que tem significado para nós, que nos torna pessoas melhores. Se tivermos esta premissa como real, que possibilidades lhe surgem?
Em síntese,
Nesta Career Conversation, clarificámos que investir em saber quem somos e aprofundar o nosso autoconhecimento permite-nos ter resiliência e clareza perante os desafios que vamos tendo. Mais do que isso, é um ponto chave para poder gerir a carreira de forma intencional, a partir do critério mais importante: sermos autênticos, ou seja, estarmos alinhados com a pessoa que somos.
Propusemos-lhe os seguintes pilares de atuação que se complementam entre si:
- Conhecer as suas forças, pois isso irá colocá-lo(a) num caminho de crescimento, de desempenho e de maior impacto através do trabalho.
- Identificar os seus valores, para conseguir realizar a leitura da sua relação profissional e apoiar decisões que lhe trarão mais paz interior.
- Desafiar a perspetiva para que olha para o problema e desenvolver um mindset alinhado com a vida que deseja.
Se fizer tudo isto, temos a certeza que verá a parte ‘meio cheia do copo’ e terá descobertas surpreendentes sobre si que pode colocar ao serviço das suas relações.
Assista aqui à Career Conversation integral com os exemplos de pessoas que acompanhámos para ter maior profundidade no tema.
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- Recursos adicionais para trabalhar e reflectir sobre a situação profissional,
- Feedback personalizado sobre a sua situação actual, posteriormente à sessão.
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Fontes:
(1) https://observador.pt/especiais/de-repente-nos-30-os-medos-as-frustracoes-e-a-ansiedade-de-crescer/
• Foco – O Motor Oculto da Excelência de Daniel Goleman
• Os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes de Stephen Covey
• Managing Oneself de Peter Drucker