Estamos habituados a deparar-nos com o termo “modelo de negócio” nos meios de comunicação que falam sobre empresas, novos negócios e também em publicações relativas a Marketing, porém sempre na perspectiva da promoção de marcas ou de empresas. Falar de modelo de negócio associado a pessoas é mais invulgar ….
Este é exatamente o tema sobre o qual vou escrever hoje:
Por que razão é afinal relevante o seu modelo de negócio pessoal?
Numa linguagem simplista, um modelo de negócio descreve a lógica através da qual, uma organização desenvolve a sua sustentabilidade financeira(1).
Para se compreender como este conceito se aplica a pessoas, comecemos por observar o contexto e a vida nas empresas.
Nos dias de hoje, o mercado é influenciado por diversos fatores sobre os quais temos pouco ou nenhum controlo, como sejam as recessões económicas, a competição ao nível global, as questões geopolíticas e as correntes migratórias de pessoas, as necessidades emergentes face à inovação tecnológica, e muitas outras. As empresas são profundamente afetadas por estes fatores. Não controlam o contexto onde se inserem mas podem alterar os seus modelos de negócio (e por vezes criar novos modelos) para se manterem competitivas. Como consequência, esta alteração de modelo de negócio provoca uma mudança interna (na forma como as pessoas trabalham nas empresas) e externa (nas comunidades, nos fornecedores, nos clientes). Com essa mudança, surgem oportunidades para uns… mas também desemprego para outros.
Os indivíduos profissionalmente ativos estão inseridos neste contexto e nestas organizações, as quais estão em constante adaptação para garantir a sua sustentabilidade.
É verdade que as pessoas não são empresas; mas, como pode uma pessoa manter a sua satisfação e sucesso, permanecendo estática e continuando a realizar as suas atividades como sempre fez? Se assim for, rapidamente se verá a lutar contra a maré, pois quem se adapta, quer queiramos quer não, ganha vantagem competitiva, porque responde de forma mais direta e eficiente às necessidades do mercado, da sua organização e das equipas onde se integra. Quem resiste, porque pensa que como sempre fez serve perfeitamente, passa a ser vista muitas vezes como “uma pedra no sapato” pelas equipas e as empresas.
Um exemplo real:
Uma das profissões afetada por alterações do mercado, foi a dos Engenheiros Civis. Após um extraordinário crescimento do setor da construção, desde os anos 70 do século passado, estimulado pelas políticas de apoio à edificação e pelas alterações estruturais do sistema bancário, seguiu-se um período de crise. Segundo as estatísticas do Instituto do Emprego e Formação Profissional, de 2012 para 2013, em cada 5 postos de trabalho destruídos, na economia portuguesa, um era do setor da construção (2) e de entre os quais constavam naturalmente os Engenheiros Civis, tendo eu conhecido vários casos pessoalmente.
Na decurso das alterações do mercado, as reações destes profissionais foram várias:
- Houve quem, em antecipação ao problema, avaliando as suas opções, acabou por manter a base do seu modelo de negócio pessoal, mas procurou novos mercados noutros Países.
- Outros, querendo permanecer em Portugal, redesenharam o seu modelo de negócio pessoal. Identificaram oportunidades colocadas por alterações legais e, derivaram para novas profissões como a de Coordenadores de Segurança ou de Técnicos Superiores de Higiene e Segurança do Trabalho. Desta forma, potenciaram know how e alavancaram novo conhecimento, reposicionando-se no mesmo setor em Portugal, ou em novos setores nomeadamente o setor industrial.
- Claro, que quem nada fez para se adaptar é provável que continue à espera da retoma do setor…
Sendo esta a situação, de que forma caraterizar o seu modelo de negócio pessoal, o pode ajudar?
O modelo de negócio pessoal, permite identificar e relacionar 9 elementos essenciais, que irão ditar se o que tem, o que faz, como faz, e para quem faz atualmente, estão alinhados com as necessidades colocadas pelas mudanças de contexto. Os elementos de que falo, são os seguintes:
1 – Clientes: quem ajudo interna e externamente, à minha Organização?
2 – Proposta de valor: como ajudo os meus clientes?
3 – Recursos-chave: quem sou, que competências e recursos tenho?
4 – Atividades-chave: o que faço que suporta a minha proposta de valor?
5 – Parceiros: quem me ajuda?
6 – Retorno: o que ganho?
7 – Custos: o que dou?
8 – Canais: como interajo com os meus clientes?
9 – Relação com os clientes: como é que os meus clientes sabem do meu trabalho e chegam até mim?
O simples ato de responder a estes 9 elementos do modelo vai levar à colocação de questões que habitualmente não fazemos a nós próprios, e à procura ativa de respostas. Muitas vezes torna-se até necessário falar com outros com quem colaboramos para percebermos como responder.
Depois de construído o nosso próprio modelo de negócio vamos compreender o que já temos e que podemos manter (no fundo, os nossos recursos), o que é importante abandonar, e o que é fundamental alavancar para continuarmos a ser competitivos.
A título de exemplo, veja o meu modelo de negócio pessoal quando integrava uma empresa de formação e consultoria.
Clique agora aqui e procure desenhar o seu modelo de negócio pessoal:
Não é fácil? Claro que não, estará a avaliar-se a si próprio. Porém, não deixe de o fazer: experimente. Vai com certeza aperceber-se do que o favorece e o que precisa adaptar, face ao seu contexto atual e à sua organização. A partir daí, é bem possível, que surjam decisões importantes.
Fontes de informação:
(1) BMY – A one Page Method for reiventing your career. Tim Clark, Alexander Osterwalder, Yves Pigneus. Wiley.com / (2) Newsletter nº 70 Julho / 2013 da FEPICOP – Federação Portuguesa da Indústria da Construção e Obras Públicas.