Manifestar a vida a que se aspira, começa com o desafio de desvendar o que quer. Em crianças, seguimos as pisadas de pais e professores. Aceitamos a sua orientação e sabedoria sobre os cursos a frequentar, os desportos a praticar, os hobbies para preencher o nosso tempo. À medida que envelhecemos, com frequência escolhemos as nossas carreiras e até os nossos companheiros(as) de vida com base em ideais estabelecidos pelas pessoas que temos como referência.

Muitos dos meus clientes seguiram as pisadas da família nas suas escolhas profissionais, dando continuidade à tradição do Direito, da Engenharia ou até da Medicina. Seria impensável ser de outro modo! Pareceu-lhes o mais natural na altura.

Mas, em que momento é que paramos de nos regular por vozes externas que nos rodeiam?Quando é que decidimos que talvez o caminho no qual estamos, não seja adequado para nós?Será que é por isso que sentimos que algo está a faltar nas nossas vidas? Que nada ‘disto’ está a fazer sentido?!

Estas são as questões que tememos, porque colocam em causa o que nos foi ensinado. Sobretudo quando aos olhos dos outros temos tudo o que seria necessário para sermos felizes. Só que não é assim que nos sentimos! E nem nos atrevemos a assumi-lo com receio de sermos criticados pelas pessoas de quem procuramos validação.

Questionar as nossas crenças mais básicas é fundamental para nos desenvolvermos e nos encontrarmos. De outro modo, as nossas vidas simplesmente irão desenrolar-se dentro das linhas estabelecidas por outros, e nunca iremos para além dos limites que nos foram impostos em criança. Sentindo-nos desconectados e numa vivência diária do tipo ‘vira o disco e toca o mesmo’. Chegamos a perguntar a nós próprios se ‘a vida é só isto?’. Porque parece não ter sentido. Um significado.

Criar uma vida com sentido, em que sente quem realmente se é, implica entrar em território desconhecido!

Daí que se fale tanto na importância de tomar consciência do seu propósito. Tema que tem sido cada vez mais verbalizado como um dos desejos das pessoas que se sentem insatisfeitas na sua vida profissional ‘vazia’, como muitos referem.

Questionar se está no caminho certo é a parte mais fácil. O que é difícil é escutar a sua resposta genuína. A sua cabeça terá certamente uma resposta, mas o seu coração, a sua intuição, terão outra. O medo surgirá para o(a) manter na direção actual, enquanto a sua vontade desafia-o(a) noutro sentido. É preciso aquietar a mente para ser capaz de se observar e identificar – o que o(a) energiza, o que lhe interessa, o que lhe é natural. Aspetos que existem em si, que lhe dão pistas para a direção certa.  Ser capaz de se observar de desenvolver a noção de si quando passa pelas diversas situações na sua vida. Procurar o alinhamento mente-corpo ou mente-coração.

Mas temos medo de estar errados. Temos medo de falhar.

Será que os seus desejos são suficientemente importantes que o(a) predispõem a lidar com os medos? Quer mesmo? A escolha é sua.

Pode escolher mudar a sua atitude:

de resignação para compromisso,

de um estado de medo para um estado de intenção, de respeito próprio, de valor.

O primeiro passo é questionar-se a si próprio(a), alterando as suas afirmações internas para perguntas.

Exemplos:

Mude de ‘sou um falhanço’ para ‘como posso alcançar o que quero?’ Mude de ‘estou saturado(a) da minha vida’ para ‘como posso tornar a minha vida mais interessante?’ Mude de ‘a minha vida não marca a diferença’ para ‘como posso fazer alguma diferença?’

A nossa necessidade de estarmos certos, de nos sentirmos seguros, cria-nos obstáculos ao compromisso de influenciar o desenho da vida que almejamos. Sentimo-nos inseguros se questionamos os nossos motivos e vontades.

Deixe-me desafiar esta perspectiva:

  • Preferiria ter razão sobre ser alguém incapaz e sem capacidade ou estar errado quanto à sua capacidade para ser capaz de algo importante?
  • Preferiria permanecer para o resto da sua vida num trabalho que não gosta ou arriscar-se num projecto que o(a) estimula?
  • Se soubesse que só teria um ano de vida faria o que está a fazer agora? Faria as mesmas escolhas de vida?

Se está a ler este texto, ambos sabemos quais são as respostas a estas perguntas.

Um dos fatores mais críticos para uma vida com sentido, é o compromisso.

A maioria de nós não se compromete com o que realmente quer. Desejamos uma vida melhor, um trabalho melhor, um corpo em forma. Mas nada acontece. Isto porque estamos a mentir a nós próprios. Queremos um estilo de vida saudável, mas estamos comprometidos em manter-nos sedentários. Desejamos uma relação, mas não saímos de casa. Sentimo-nos confortáveis com o status quo. Mas quando nos apercebemos que ninguém nos virá salvar, ou fazer por nós, e as nossas fragilidades permanecem gostemos ou não, então apercebemo-nos que somos nós que temos a responsabilidade de alcançar o nosso potencial.

Vou partilhar consigo um exemplo prático que demonstra o que lhe quero dizer. Nos primeiros anos do projeto Career Redesign®, praticamente ninguém conhecia este meu trabalho. Eu ia acompanhando as pessoas a conta-gotas enquanto continuava a trabalhar em projectos de gestão da mudança em empresas. Eu dizia que queria levar o projecto a mais pessoas. Também sabia que escrever um livro ia contribuir para isso. Para ajudar quem eu não acompanhava, através do conteúdo do livro. Só que isso implicava maior exposição.

Algo que eu temia. Sim, isso mesmo! Eu tinha medo da exposição. Tinha medo do que as pessoas iriam pensar de mim se conhecessem a minha história. Tive medo da reação das pessoas da minha família ao lerem sobre o seu impacto nem sempre favorável na minha vida. Resisti a esta ideia, o quanto pude.

Só que um dia por causa de uma entrevista que o jornalista Pedro Rolo Duarte me fez na Antena 1, sobre histórias de mudança, aconteceu algo inesperado. Recebi mensagens de algumas pessoas que se sentiram inspiradas pela minha partilha e por causa disso tomaram uma nova decisão nas suas vidas. Foi aí que eu saí do impasse e avancei finalmente com o compromisso de escrever o livro. Foi aí que ganhei uma âncora, um motivo – passar a mensagem de que é possível e que todos passamos por altos e baixos. Isso para mim era mais importante, tinha mais significado do que agradar àqueles que nem sempre acreditaram em mim do que agradar a todos os que me lessem!

E aqui estou hoje. Cada vez mais comprometida e cada vez mais a viver a vida a que me propus, que nada tem a ver com a vida de qualquer outro elemento da minha família!

Manter o compromisso e honrá-lo é muito difícil. Quantas vezes já pensei em desistir? Depois de tanto caminho feito? Mas enquanto eu sentir que o que faço me faz crescer e contribui para melhorar a vida de outros, eu não consigo desistir. Já são 9 anos e muitas centenas de pessoas que conseguiram com base no compromisso mudar a sua vida e hoje vivem de forma mais alinhada. Quando eu questiono o meu compromisso, lembro-me dessas pessoas, das suas histórias e da diferença extraordinária que estão a fazer no Mundo. Por isso, é tempo de continuar e honrar o compromisso.

Não tema se não sabe ainda o que quer. Praticamente todos passamos por essa etapa quando percebemos que a vida que levamos não é a nossa! Simplesmente cumpra o compromisso de viver no seu potencial. No presente. O compromisso com a sua decisão de querer descobrir e criar uma vida com maior sentido, vai guiá-lo a locais onde nunca esteve, a livros que nunca leu, a pessoas que vão lhe vão dar apoio.

Há um ditado budista que diz ‘quando o estudante está preparado, o professor aparece’. Esses professores podem ser colegas, empreendedores, amigos, mentores, mas também o chefe tóxico, o(a) companheiro(a) com quem a relação não deu certo. Todos espelham algo sobre si e a que é preciso dar atenção.

Quantas vezes me surge em sessão casos de pessoas que olhando em retrospectiva saíram das suas relações profissionais por causa da sua dinâmica com as chefias. Há um padrão que se repete. Escolhem desafios que são liderados por pessoas de um certo tipo, nunca tendo parado para perceber isso e aprender com isso. A saber ler os sinais, a estar diferente nas relações, a influenciar a dinâmica da relação.

Seja um(a) guerreiro(a) se quer manifestar os seus sonhos. Quantas pessoas conheço que pedem para os seus sonhos se realizarem, mas são travados pelos seus medos e a sua resignação.

Sabe quem consegue? Aqueles que traçam um plano de ação. Que se comprometem. Que agem. Esta é a estrada de uma vida com mais luz, para viver em verdade.

No outro dia, incentivava um cliente a agir se quer mesmo a mudança. Isto porque o exercício teórico esgota-se ao final de algum tempo e tudo se mantém inalterado. Não precisa de atacar o tema de uma vez, de forma radical. Pode fazê-lo no seu ritmo. No ritmo que sente que consegue a cada passo. Mas aja!

Claro que existem pressupostos internos ou se quiser pensamentos repetitivos que nos boicotam nesse compromisso. Por exemplo:

  1. não tenho competências ou experiência,
  2. não é o que era suposto acontecer nesta fase da minha vida,
  3. já gastei muito dinheiro em formação este ano e por isso não vou fazer o programa que me coloca no caminho da transformação,
  4. não tenho recursos para fazer,
  5. devia era arranjar um trabalho como deve ser.

As tais afirmações internas pseudo-conscientes que guiam os nossos processos de decisão e adivinhe: boicotam-nos, mantendo-nos seguros e protegidos, a ganhar tempo para não honrar a decisão de criar a vida que diz que quer para si.

Desafie estas afirmações (as que acima indiquei), transforme-as em perguntas e verá como os seus processos de decisão mudam: Por exemplo:

  1. Que competências já tenho? Quais as que são cruciais angariar?
  2. É a realidade. Que ajustes quero fazer agora que me deixem mais preenchido(a)?
  3. Como me posso organizar para fazer este programa com maior brevidade e estar mais perto da clareza?
  4. Já tentei essa via. Foi a que me trouxe aqui, por isso agora é tempo de definir o trabalho que quero ter que me preenche.

A decisão de mudar a sua vida, é séria. Muita gente gosta de falar em mudar, mas não está disposta a abdicar de comportamentos que os aprisiona em situações desfavoráveis. Mudar de vida é procurar significado e paz. Só você tem as respostas e a capacidade de mudar a sua vida.

Vai precisar de compromisso.

Vai precisar de um plano.

Vai precisar de agir.

Vai precisar de se observar e aprender quais as suas afirmações bloqueadoras e transformá-las em perguntas.

Percorrer o caminho é que vai trazer a clareza e a gratificação. Por isso, meta-se ao caminho…

Artigo escrito com base no capítulo 10 ‘A life worth living’ do livro ‘The dark side of the light chasers’ da Debbie Ford.