Muitas são as pessoas que desejam ter uma vida profissional diferente. Mas são muito poucas aquelas que realmente estão dispostas a fazer o que é preciso para isso. E são ainda menos aquelas que conseguem o que desejam. Já reparou? Não é por acaso.
O factor de motivação mais forte que todos temos é evitar a dor. Essa motivação supera largamente a vontade de alcançar o prazer. Sendo ao prazer que associamos muitas das mudanças que pensamos que gostaríamos de concretizar. Excepto quando a situação que vivemos nos provoca uma dor de tal ordem que qualquer mudança é melhor do que o ponto onde estamos e aí estamos dispostos a tudo!
O que acontece com mais frequência é as pessoas darem passos em frente muito significativos e no último instante, recuarem. Ou dizem e fazem coisas que sabotam o próprio sucesso que procuram seja este pessoal, emocional ou físico. Invariavelmente, o motivo é um conflito de valores.
Eu própria já passei por isso. Há muitos anos fiz escolhas profissionais assentes num valor que eu considerava fundamental: A autonomia e estabilidade financeira. Por causa disso, fui capaz de assumir uma função da qual não gostava, numa organização onde me sentia totalmente desalinhada. Vivi nesta realidade durante anos, à custa da perda da minha saúde mental e depois da saúde física. Até que um dia vivi um episódio que fez vir ao de cima um outro valor fundamental: a honestidade! Perante essa situação em que estavam em causa ações incorrectas e pouco lícitas, não tive dúvidas que a minha colaboração terminaria ali. Nenhum salário se poderia sobrepor a isso. Estava em causa a minha ética acima de tudo. Mas repare que foi preciso chegar a um ponto limite de dor, para eu ter a coragem de dar um passo em frente significativo que mudou todo o rumo da minha carreira.
O que lhe quero dizer, é que não é preciso chegar-se a uma situação limite como aquela que vivi para se ser capaz de dar passos rumo a uma vida melhor. E é isso que lhe quero propor neste artigo, através de dois passos:
1º Passo: Ganhar a noção dos seus valores actuais para compreender porque faz o que faz e se mantém numa situação insatisfatória. Afinal de contas, os valores que temos resultam de um legado do sistema em que crescemos e em função do qual fomos moldados. A autonomia e estabilidade financeira foi e continua a ser o valor primordial em função do qual a minha família ascendente rege as suas escolhas.
2º Passo: Tomar decisões conscientes sobre os valores que deseja viver, para moldar a qualidade de vida e o destino que realmente deseja e sobretudo merece. Foi isso que eu fiz no momento em que decidi mudar. Apesar de a autonomia financeira ser importante, deixou de ser o valor prioritário nas minhas escolhas e nunca tive tanta abundância como hoje. Dá que pensar, não é?
Então proponho que realize os exercícios que abaixo lhe descrevo.
1. Descubra os seus valores actuais
Crie uma lista dos seus valores, respondendo de forma muito honesta à pergunta ‘o que é mais importante para mim?’.
Respostas possíveis que pode usar como ajuda ao seu exercício:
Impacto
Amor
Paz de espírito
Diversão
Saúde
Criatividade
Liberdade
Autonomia financeira
Crescimento
…
Depois de listar os seus valores organize-os por ordem decrescente de importância. E compreenda porque faz o que faz e qual o contributo para a situação actual que não o/a satisfaz.
Dou-lhe o meu exemplo. Na altura em que eu colaborava na empresa que atrás referi e com a qual não me identificava a minha lista de valores era:
– Autonomia financeira, – Liberdade, – Serviço, – Honestidade.
Com esta ordem de valores o que eu fiz foi gerir a minha vida de modo a manter a autonomia financeira e sem me aperceber, perdi a minha liberdade ao serviço de uma organização na qual não acreditava. Até ao dia em que depois ser desonesta para comigo própria, me era pedido que servisse a desonestidade de outros. Hoje, é tão claro para mim que aquela relação não era sustentável. Mas eu não tive esse discernimento mais cedo. É o que acontece muito frequentemente. Por isso, avancemos no exercício.
2. Mude os seus valores para mudar a sua vida
Para conseguir fazer isso, é importante que tenha a noção de que nós não somos os nossos valores. A maioria de nós tem valores que não são mais do que prioridades condicionadas que nos foram passadas por outros. Não foram escolhas conscientes. E é isso que agora lhe proponho. Agora que é uma pessoa adulta, pode fazer essa escolha. É essa a sua responsabilidade.
Para isso responda às seguintes questões:
- Que outros valores posso ter e acrescentar à minha lista que me impulsionem a ser uma pessoa melhor e a conseguir o que desejo?
- Que valores devo retirar da minha lista para alcançar o que desejo?
- Que posição na lista deverá ter cada valor para que eu alcance a minha Visão?
Imagino que se possa interrogar em que medida é que responder a estas questões pode contribuir da forma que aqui sugiro. A resposta reside no impacto emocional que as escolhas conscientes provocam em nós. Quando temos presente a nossa hierarquia escolhida de valores é quando começamos a tomar decisões de forma diferente e é o somatório dessas decisões que o/a vai conduzir ao destino almejado, com a sensação de ser livre nessas escolhas.
Volto a dar-lhe o meu exemplo. Depois de me ter despedido da empresa em que trabalhava eu alterei a minha lista de valores, passando a ser a seguinte, por ordem decrescente de importância:
– Honestidade, – Contributo, – saúde, – experimentação, – autonomia financeira.
Repare que inverti a ordem dos valores honestidade e autonomia financeira. Esta foi uma das grandes mudanças fundamentais na minha vida que me trouxe onde estou hoje. Deixei de me enganar a mim própria e ao ser brutalmente honesta no que quero e não quero, tornei-me mais livre. Por isso retirei a liberdade da lista de valores porque é inerente ao exercício da honestidade numa base regular.
Até hoje todas as minhas decisões importantes passam pelo filtro dos valores. Eu pergunto-me de que forma determinado projecto, colaboração ou relação me permite honrar cada um dos meus valores e no final a decisão que tomo está sobretudo alinhada comigo própria. E este é um acto que nos leva para uma vida de realização e de plenitude. Que nos traz tranquilidade e paz de espirito. Pois quanto mais conscientes e alinhados estivermos com as escolhas que fazemos, mais nos aproximamos da vida que queremos criar.
‘Somos aquilo que fazemos repetidamente’
Aristóteles
Este é um exercício que realizo com muitos dos meus clientes e tal como aconteceu comigo, também no caso deles se observam mudanças significativas nas suas vidas. Por isso, apelo a que não se fique pela leitura deste artigo. Pegue num lápis e num papel e realize o exercício. Não tem nada a perder, mas tem muito a ganhar!
Artigo inspirado no capítulo 15 do Livro Desperte o Gigante que há em si de Anthony Robbins.